A Anabela comentou-me no Escolaridades, por achar que tem uma posição interessante na questão da ordem, publico aqui, mesmo sem autorização dela (espero sinceramente que me desculpe)...
Miguel, bem-haja pelo tema que aborda. Queria ver se não me adiantava muito, visto este tema ser de facto, ainda pantanoso...Eu, concordo com a criação de uma Ordem dos Professores. Sim, concordo.Não me parece que exista uma incompatibilidade entre a eficácia dos sindicatos (na dimensão das suas lutas pelos direitos laborais), e a criação de uma Ordem que regule, que avalie, que direccione as linhas matrizes da prática educativa, emanadas pelo ministério da educação.O que na verdade os sindicatos se deverão ocupar, será apenas e somente das questões laborais, no que concerne a profissão, na esfera dos direitos e deveres do trabalhador. Que proteja o professor legalmente, que o defenda, informe, que o ampare nas questões laborais. Somente isto, e já não é pouco.Não existe um corpo de ética e deontologia, na profissão de Professor. A culpa será provavelmente da epistemologia que esta profissão contém (grande leque de especializações de áreas da prática docente). Mas não. Não pode ser esta a justificação. Senão, não caberia na mesma Ordem, por exemplo, os engenheiros físicos e os químicos mais os electrotécnicos. Ou os médicos especializados em cardiologia, pediatria ou genecologia... estou-me a fazer entender?Então, qual é o entrave, a delonga, à criação de uma Ordem dos Professores?A resposta possível vem de trás, das alterações que se foram efectuando na Educação, desde que a poeira da revolução dos cravos assentou, e após os inúmeros governos provisórios...Todos os ministérios se organizaram, por forma a uma autonomia e eficácia comprovada... Todos, menos o Ministério da Educação.E, porquê? Porque a classe de docentes sempre fez tremer as bases dos governos. Porque apesar de Veiga Simão ser um homem determinante na viragem da ditadura para a democracia, não exactamente como gostaríamos que ela fosse, não soube ou não pode, em boa hora, assegurar os limites de intervenção do estado sobre esta classe.Por este pequeno motivo, de grande conveniência para alguns, os sindicatos proliferaram, nesta classe.não. Não vou atacar os sindicatos, muito embora me apetecesse...A questão que me faz comentar este seu post é somente esta:Os sindicatos que se ocupem das questões da defesa dos direitos do profssional da educação, e deixe de lado a sua intromissão nas políticas educativas. Não deviam querer dar bitaites sobre como se deve proceder à organização das competências e dos conteúdos, ou de como introduzir esta ou aquela área de saber nos currículos. O currículo não é matéria de reflexão e intervenção dos sindicatos.Urge uma Ordem dos Professores, que proponha actividades programadas, com vista a melhorar e qualificar a prática docente. Que regule, que ofereça planos de acção, de intervenção, e de parcerias também (porque não?). Que seja uma instância de pareceres, que expresse considerações e as fixe, como Norte da prática desta maravilhosa profissão que é ser-se Professor...
7 comentários:
Que maravilha que seria para um ministério, sindicatos e sindicalistas deste tipo: corporativistazinhos, sem réstia de pensamento educativo e político. Quem assim fala, que me desculpe o atrevimento, mas aconselho vivamente que leia a história do sindicalismo docente português. Nunca ele foi nem deverá ser, algo que não se nutra de pensamento pedagógico e educativo. Sem porventura o querer esta transformação dos sindicatos em entidades unicamente devotadas aos ditos "direitos laborais" sem intromissão nas "políticas educativas" é o sonho de muitos políticos instalados e dos que se chamam tecnocratas.
A Anabela referiu as diferentes especializações ou grupos da nossa classe, no entanto a Ordem dos Médico resolveu esse item com a criação de colégios da especialidade.
Não será possível fazê-lo também com os professores?
Acho que sim. No entanto também acho que a Ordem significa ausência de controlo do Estado... e isso não interessa, claro!!
Henrique:
Penso que a Anabela apontou aquilo que julga poder ser uma área de intervenção da Ordem e, por isso, a justificação plena para a sua criação. Como diz a anacristina, a criação de colégios da especialidade, como tem a ordem dos médicos e a dos engenheiros seria uma via a explorar para anular a conflitualidade de interesses por via das áreas científicas específicas e uma via para a organização interna...
É claro que os direitos laborais de cada profissão têm de estar consonantes com as políticas deses sectores e nessa medida os sindicatos podem, devem e têm de actuar e negociar também essas políticas sem que forçosamente haja choque com o papel desempenhado pela Ordem.
Não me parece ser redutor da função sindical e dos sindicalistas a proposta da Anabela, que lembro, propõe uma via que considero ir na linha de complementaridade entre a Ordem e os Sindicatos. É, sem dúvida, uma via a explorar e a pensar com muita atenção.
Aliás os sindicalistas da educação, neste cenário, teriam que estar inscritos na Ordem. Já viu este cenário possível e desejável?
henrique santos
responda-me a uma dúvida que me atormenta:
se os sindicatos são assim tão eficazes e iluminados, sendo a sua intervenção activa na definição das políticas educativas dos últimos 33 anos um facto incostestável, como foi possível chegar ao estado actual de desvalorização, desacreditação e proletarização dos docentes ???
Henrique a Ministra deve estar demasiado contente com os sindicalistas da actualidade que têm tantos argumentos, uns de índole laboral e outros de índole técnico, que se perdem e falam e não dizem nada, como foi o caso de José Nogueira no prós e contra. Tinha tantos argumentos e não chegou a completar nenhum, nem sequer cheguei a saber se o sindicato está ou não chateado com a Ministra. Agora, se entendo o entusiasmo de alguns com o aparecimento da Ordem (atenção, ainda não disse que defendo a Ordem), o que não entendo são as razões pelas quais outros fogem dela como o diabo da cruz…isso é que eu gostava de conseguir entender…sempre que se fala da Ordem alguns reagem da mesma maneira que o Drácula reage à claridade do dia. És capaz de me explicar Henrique…
Eu quando falo de sindicatos e sindicalistas falo de gente culta, conhecedora da sua profissão e com responsabilidade profissional e social e consciência social e política.
Não tenho procuração nem defendo nenhum sindicalista em particular. Apenas sei da importância dos sindicatos e dos sindicalistas em tudo o que tem a ver com a educação. Quanto aos casos concretos sei bem melhor do que o comum dos professores o bom e o mau que anda no sindicalismo. Já lá andei mergulhado, felizmente na parte mais positiva.
O estado a que isto chegou do ponto de vista negativo deve aos sindicalistas uma parcela que não é de longe a mais importante. As culpas devem ser assacadas na sua grande parte ao poder político dos grupos que estiveram no poder nos 33 anos pós 25 de Abril e muito antes também, que não branqueio o papel do fascismo em Portugal no domínio da Educação. É que é preciso não esquecer que os sindicatos não estiveram no poder...
Quanto a alguns anticorpos que alguns sindicalistas têm em relação à ordem, terá de se lhes perguntar.
Eu neste momento não tenho nada contra uma ordem nem especialmente a favor. Acho que neste momento de crise da situação social, profissional e estatutária dos professores causada pelo ataque que este governo intencionalmente realizou e está realizando, a questão da ordemm venha ao de cima.
Vejo nela uma vantagem de momento: pôr os professores unidos nem que seja obrigados para pagar cotas, sem que possam invocar os argumentos habituais para não serem, por exemplo, sindicalizados.
Não penso que a possível criação de uma ordem de professores fosse uma solução para os problemas que assolam os professores.
Caro Henrique li com atenção o que disseste, concordo em parte com o que afirmaste acerca dos sindicatos e tens razão, só sei o que o comum dos professores sabe sobre os sindicatos, mas sou um dos comuns que pagam cotas que questiona o que se fasz nos sindicatos sem ter uma resposta que me convnça. E porque o que se está debatend é a ordem e não o sindicato, desculpa que te diga, não li um argumento que fosse contra a ordem da tua parte...como posso interpretar isso? (não estou provocando, estou tentando entender).
Relativamente ao tempo de crise, eu também tenho duvidas se este é o melhor momento para debater esta questão, mas acontece que, sempre que as coisas estiveram bem, ninguem debateu nada e não nos podemos agarrar a pretexto da crise e pensar que dabater a ordem é dividir espingardas, pelo contrário
Enviar um comentário