sexta-feira, setembro 28

O que é que é preciso MUDAR para APRENDER?

Caros companheiros,

Aceito, enfim, o desafio de lançar um novo tema. Que tema/problema nos pode unir e ser uma pedra angular da nossa profissão? E encontrei um resposta/pergunta possível: o que é se pode e deve mudar para que os nossos alunos aprendam mais? Para que os nossos alunos aprendam o que é realmente importante para a vida nos seus distintos planos (da fruição estética, do lazer, da produção, da convivência cívica)? Isto é: o que cada um dos actores educativos pode (e deve) fazer para melhorar os resultados (académicos, relacionais, sociais, de percurso pós-escolar) dos alunos? O que é que o poder político (leia-se o ME), os Serviços Centrais do ME, as "Direcções" Regionais, a Direcção das escolas e agrupamentos, os coordenadores de Departamento, os professores, os pais... podem e devem fazer para que os nossos alunos aprendam mais e sobretudo melhor? O post anterior (que felicito e integro) é bem claro: não bastam as mudanças tecnológicas, é preciso tocar no coração das metodologias. E acrescentaria: tocar no coração das pessoas, na valorização dos saberes, no reconhecimento dos dispositivos que geram aprendizagens...

É pois este o tema (talvez vasto e complexo) que proponho: o que podemos fazer para que os alunos queiram aprender? E não só nós (educadores/professores), mas todos os que são responsáveis pelas gerações mais jovens? Eis, pois, o desafio: que cada companheiro(a) puxe pelo fio que entenda mais pertinente.... . Até já.

14 comentários:

Teresa Pombo Pereira disse...

JMA, como sempre, excelente post e excelente sugestão. Toca tudo, toca todos, é o cerne da questão. Enquanto professora nunca me esqueço da aluna que fui - em todos as fases - e não perco de vista, ou tento não perder, a necessidade de um ensino individualizado, aliada à certeza de que será sempre impossível agarrar a todos da mesma forma. Isto para dizer que o factor motivacional me parece um dos mais importantes. Só aprende aquele que estiver disponível e motivado para o fazer. Sem isso, não haverá aprendizagens efectivas possíveis. Há inúmeras formas de procurar envolver os alunos, que não referirei aqui, e muitas vezes só o perfil do professor basta. Nem todos nascemos para isto e transmitir informação até é fácil, espera que ela seja recebida e processada e atribuir as falhas ao outro lado do processo comunicativo ou ao contexto (socio-familiar-económico) também é fácil.
Esta semana fiquei surpreendida com as dificuldades tecnológicas de um grupo de alunos que tenho num curso educação e formação. Ingenuamente pensara que embora as suas competências essenciais nas disciplinas estivessem muito aquém do necessário, essas novas competências estariam melhorzitas. Nada disso, sabem ligar o pc, vaguear pela net, comunicar no msn e hi5 e jogar. Mais nada. A própria descodificação de uma página simples ou o uso do básico do Word é complicado. Tanto trabalhinho pela frente. Mas tão gostoso também. Não sei se os senhores dos Programas se escandalizariam ao ouvir-me dizer que 90 minutos da aula de Português foram passados a criar contas de correio electrónico e a conceber novos espaços de escrita pessoal através dos blogues pessoais mas... eu penso como a querida Emília no http://netescrita.blogspot. com : o que eu quero é que eles gostem um pouco mais de ler e escrever e que terminem a saber fazê-lo melhor, a estarem e falarem também. Tão só. E para isso farei tudo o que diferente preciso for.

Teresa Pombo Pereira disse...

Ainda a propósito do tema, convido-vos a conhecer e a ler o post de alguém que também não estaria aqui mal no nosso cantinho :-): o José Azevedo. Comecem por aqui: http://aprendereensinar.blogspot.com/2007/09/as-tic-no-ensino.html

José Azevedo disse...

Pois, veio a propósito a minha entrada, não foi?

Este tema é demasiado complexo. Mas a ideia não é escrever um livro, penso eu, mas trocar opiniões e sentimentos. Então aí vão alguns.

Em primeiro lugar, ainda bem que o "aprendam mais" foi logo seguido de uma explicação. Claramente, não se quer que os estudantes aprendam mais, mas sim melhor. E o "melhor" pede logo para ser definido: melhor em função de quê? Para que serve a aprendizagem? O que queremos para os nossos alunos?

E daqui passo para outros níveis: quem quer o quê? O que querem os pais, e que pais querem o quê? O que quer o governo, e qual é a diferença entre o que ele pensa que quer e aquilo que quer mesmo? O que é que, do nosso sistema de ensino, está fossilizado noutros tempos em que o que se queria do ensino era diferente do que queremos hoje?

Muitas perguntas, eu sei. Mas servem para ilustrar que um tema destes não tem uma resposta única. Um dos meus ditados preferidos é que todos os problemas complexos têm sempre uma solução lógica, simples... e errada.

Pessoalmente, ponho as coisas à minha escala: o que é que EU tenho que mudar? E aí já tenho algumas respostas, mas ficarão para outro momento :-)

Teresa Martinho Marques disse...

Oh meninos... assim não vale... só coisas boas para reflectir... e eu que lá na entrada atrás já teci umas palavras, agora não posso ficar aqui mais tempo. Ainda assim, pegando nos desafios do JMA (sempre estimulantes e deeensos), nas palavras apaixonadas da T e no fio azul do JAz (que quero eu? que posso fazer eu por...?) acho que trabalhei uma das pontas, das variadíssimas respostas possíveis à proposta do JMA, na entrada que acabei de deixar hoje na teia (Programa... é o quê?).
E se por um lado o exercício dentro da aula é um exercício de alguma solidão (acompanhada), por outro, a partilha nestes espaços permite algo até hoje impensável sem as tecnologias: alargar a sala de professores e ajudar pares a refazer caminhos se sentirem que o seu merece melhoria e ajustes. Assim... o "mudar" pode ser flor nascida nas sementes que estes encontros de palavras acabam por ser para todos nós...

JMA disse...

Para já só quero felicitar todos os participantes. Quer-me parecer que poderemos ir longe neste estimulante debate....

Miguel Pinto disse...

Não é fácil desenvolver um sistema educativo que satisfaça pessoas e grupos que têm as suas singularidades, interesses, e modos de entender os valores essenciais que devem reger o sistema educativo.
O JMA alertou para a complexidade da tarefa. O José Azevedo sublinhou essa dificuldade e deu o primeiro passo para a mudança positiva: tratar do EU em primeiro lugar. Eu estou disposto a mudar, se for preciso, para colaborar e facilitar a aprendizagem dos meus alunos. Mas esta mudança, esta predisposição para a mudança, precisa de um espaço para se expressar. A educação é um território de confrontos políticos, religiosos, entre grupos sociais,... Será possível concretizar o meu projecto de mudança de modo atomizado? É aqui, na mudança com o outro, que nasce o confronto. É também aqui que se geram os consensos e as possibilidades.

PS: O José Azevedo está desde já convidado a juntar-se ao grupo. :) Preciso do teu email, José.

Anónimo disse...

:):)
Estou muito contente com o tema. Acho que vou ficar caladinha (ou quase), pois eu, como aposentada, já não posso começar por essa 1ª questão a colocar antes de outras: "O que é que EU tenho que mudar?". Mas estou contente porque o tema "O que é que é preciso mudar para APRENDER?" não pode ser mais pertinente neste momento de tantas mudanças que mais prometem nada mudar nas aprendizagens dos alunos, ou até mudar para pior.
Força, companheiros!

henrique santos disse...

Do que como professor e pessoa me tenho apercebido no universo do mundo educativo, é que muitos de nós olhámos para os outros, para as crianças e jovens, com um olhar estático e negativo. Explico: simplesmente achámos, por indicadores superficiais, que os alunos se dividem em bons e maus e que isso é algo de permanente, uma qualidade da pessoa. As expectativas negativas que se colam aos alunos que nós considerámos com poucas capacidades fazem com que (o efeito pigmalião explica isso) esses alunos nos devolvam a imagem que temos deles.
Por isso penso que uma coisa fundamental e que está nas mãos dos professores é o de passarem a olhar os seus alunos com olhos positivos e com altas expectativas.
Salvo erro foi Pasteur que disse um dia que quando olhava uma criança isso lhe despertava dois sentimentos: ternura pelo que ela era e respeito pelo que ela poderia vir a ser. Transformar as visões sobre os alunos, principalmente as negativas, é fundamental para que os alunos aprendam mais e melhor. Então não é do senso comum que se um professor confiar no aluno, lhe transmitir expectativas positivas, isso gerará um capital de mobilização que poderá levar muito longe?
Digo isto pois penso que muitas vezes isto não acontece nas nossas escolas.

«« disse...

No contexto socio-educativo actual há uma pergunta fundamental que, na minha opinião, deve ser respondida antes pela sociedade e que se prende com o que se quer, a sociedade, que a escola ensine, que papel terá a escola, será a escola instrutiva ou escola educativa, qual a predominância de uma sobre a outra (caso, tal como defendo, tenham que coabitar as duas vertentes), como é que professores espartilhados por uma regulamentação que conduz a instrução – reflicta-se acerca do novo ECD, e outros regulamentos que por aí andam – podem levar a cabo a sua função se: 1º) não há uma clarificação da sociedade acerca do que se pretende formar, por um lado, mas por outro avalia-se o sucesso educativo (eis um óptimo tema para ser reflectido) tendo como base o ratio entre retenções e progressões; 2º) Como é que professores descontentes podem construir uma escola alegre?...enfim há muito para dizer, desculpem lá qualquer coisita.

Anónimo disse...

Subscrevo, e com muita força, o que disse o Henrique.

E afinal não resisto a meter uma colherada, mas é sobre mudanças especificamente sobre a disciplina de Matemática (o que não é de pouca importância)
Para além das expectativas positivas de que fala o Henrique, toda a vida pensei que a diminuição do insucesso nessa disciplina passa muito pela mudança de métodos do ensino dela. E tanto eu como os colegas que ao longo da vida conheci a defenderam o mesmo tipo de método que eu não tivemos nenhuma razão para deixar de pensar assim, muito pelo contrário.
Gosto de citar que "a Matemática não entra pelos olhos ou pelos ouvidos, mas pelo lápis no papel". A estrutura de funcionamento de aula que sempre foi base das minhas aulas não será adequada (pelo menos do mesmo modo) a certas outras disciplinas, mas considero que, nas linhas essenciais, é a adequada à Matemática nas idades do básico (e há sobejos fundamentos teóricos e na investigação para defender isso).
Mas esse método pegou insuficientemente e hoje está arredado pelo menos pela maior parte dos professores de Mat. Ter os meninos em filinhas a ouvir longas explicações no quadro pelo professor, aparentemente participando (sublinho o aparentemente), é menos propício ao papão da indisciplina (pensa-se que é, cá para mim é um engano, pois com os alunos envolvidos no trabalho, numa verdadeira dinâmica de cooperação, podem fazer mais barulho, mas indisciplina há menos - mas o professor tem que sair do "estrado" e dispor-se a exercício físico com as pernas pela sala ;))

Pronto, desculpem esta particularização do caso da Matemática.

José Azevedo disse...

A nota de LN sobre Tomaz de Aquino reforça a importância da vocação do professor na qualidade do ensino. Vale a pena ler, que mais não seja pela contextualização histórica.

Anónimo disse...

TAlvez a contra-corrente da generalidade dos outros comentadores, acho que o problema não está nas características do sistema educativo, mas numa diferença radical na quantidade de informação a que os alunos estão expostos fora da Escola pelos vários meios de comunicação e que, em muitos casos, os fazem pensar que já dispõem da informação indispensável e que o professor só lhes ocupa o tempo com coisas desnecessárias ou facilmente alcançáveis.

Demonstrar que se passa algo muito diferente disso, que o professor não está lá só para transmitir informação, mas para ajudá-los a organizá-la e usá-la criticamente é muito importante.

E, claro, a velha necessidade de criar um bom ambiente de aprendizagem quando ele não existe.
Essa é que, para mim, é a questão do Euromilhões.
Aí é onde muitas teorias esbarram.

JMA disse...

A relação pedagógica é na maioria dos casos, a variável provavelmente mais importante na predição do sucesso educativo. E relação faz-se de i) confiança, ii) exigência, iii) disciplina, iv) expectativas.

Anónimo disse...

Na minha disciplina, Inglês, o que poderia ser feito para melhorar, seria um ensino mais voltado para a comunicação e menos para a gramática, devendo ser esta encarada, apenas, como um dos meios para se atingir um fim. A utilização de metodologias activas e motivadoras como os jogos, o uso de audio-visuais é extremamente importante. Por outro lado, um indivíduo só aprende línguas se tiver oportunidade de as praticar.Só se aprende a falar uma língua, falando, a perceber, ouvindo, a ler, lendo e a escrever, escrevendo. Parece óbvio mas as condições em que essas disciplinas são leccionadas, obriga, muitas vezes, a que sejam ensinadas como era ensinado o latim, uma língua morta. Com 28/29 alunos por turma o ensino e a aprendizagem das línguas vivas, que deve ser eminentemente prático desde o início,torna-se ineficaz, já que não permite que os alunos mais tímidos e menos capazes recebam a atenção que deveriam, ficando para trás, acumulando insucessos e tornando-se, muitas vezes, em alunos indisciplinados e perturbadores. Por isso, acredito que uma das lutas dos professores de línguas deveria ser o desdobramento dessas disciplinas, tal como sucede com as Ciências. As turmas não deveriam ter mais do que 15 alunos.