Os desafios colocados à avaliação das aprendizagens tipificam um desafio mais geral do nosso tempo - apesar de estarmos na era da informação, subsiste, e aumenta mesmo, a dificuldade em saber utilizá-la.
A nossa capacidade tecnológica de recolher e tratar a informação, excede largamente a nossa capacidade humana de a processar e de extrair sentido dessa avalanche informativa.
Este fenómeno aparece claramente exemplificado pelo grande desenvolvimento de tipologias, princípios e procedimentos de avaliação, cujos resultados temos tanta dificuldade em utilizar.
Por outro lado, os vários modelos de avaliação, com as suas técnicas e procedimentos específicos reflectem, não apenas divergências de natureza epistemológica, mas também as dificuldades de ordem técnica e de formação em avaliação.
Parece-me também evidente que a conflitualidade filosófica sobre a natureza da avaliação reflecte ainda a necessidade de desenvolvimento de um campo de investigação relativamente recente.
O desenvolvimento dos modelos de avaliação educacional inclui os princípios filosóficos, os contextos de prática e as próprias agendas sociais. Alguns modelos foram-se refinando, designadamente através de procedimentos cada vez mais especificados, enquanto outros apenas reflectem uma posição filosófica geral.
Os limites e os componentes de cada modelo são frequentemente difíceis de determinar, em particular em modelos para os quais têm vindo a contribuir diversos teóricos.
A avaliação das aprendizagens tem acompanhado as perspectivas epistemológicas da investigação e da avaliação educacional: nos anos 60 predominava a preocupação com a eficácia e a objectividade; posteriormente, a avaliação procura desenvolver alternativas, resultantes do descontentamento e alguma ineficácia comprovada da abordagem objectivista, alternativas essas que procuraram utilizar os resultados da avaliação de forma mais eficaz e introduzem simultaneamente a perspectiva da investigação qualitativa; finalmente uma procura de integração das perspectivas quantitativa e qualitativa, por influência dos modelos mistos de investigação, numa abordagem que procura ser mais coerente e mais abrangente, que procura utilizar instrumentos de contingência, mais adequados à diversidade das situações e dos sujeitos, mas que carrega consigo as dificuldades epistemológicas e práticas do paradigma da complexidade.
Saliento que estes três estádios a que me referi não se excluem mutuamente, mas traduzem os avanços e recuos no desenvolvimento da teoria da avaliação.
Efectivamente, os teóricos mais recentes têm vindo a integrar aspectos do trabalho de teóricos anteriores, rejeitando outros e introduzindo novos campos de reflexão e de investigação, não sendo assim de estranhar que os mais recentes modelos de avaliação tenham vindo a reeditar, a reabilitar e a rever, numa perspectiva mais abrangente e mais complexa, taxinomias que, há alguns anos atrás, pensávamos estarem definitivamente postas de lado, quando a avaliação das aprendizagens incorporou os modelos qualitativos de investigação e de recolha de dados.
6 comentários:
Breve comentário à margem, a propósito de investigação:
Penso que uma dificuldade que se coloca aos professores é a do acesso a literatuta actual no campo da investigação, a artigos recentes cujas conclusões ou pistas não se encontram em livros de livraria. Pelo menos a minha experiência diz-me que esse acesso fica fácil quando se tem um cartão de estudante (mde estrado, por ex.) de uma qualquer universidade (dá acesso às outras, às suas bibliotecas e bases de dados), mas fica difícil quando não se tem cartão, o que acontece em geral.
Como contornar isso? E quando começam os investigadores a preocupar-se mais em escrever também para divulgação (aos professores no caso da Educação)?
Que pensas disto, Idalina? (E a pergunta não é só para a Idalina)
Pronto, fujo já, isto foi só para desenferrujar os dedos ;)
O que me preocupa mais nesse acesso, IC, não é tanto o acesso material, é a vontade de aceder. Grande parte dos professores não tem sentido - e reparem na forma verbal - necessidade de aceder a outra informação ou a melhor informação, ou apenas a (in)formação diferente daquela que recebeu. Contenta-se em dar as suas aulas incorporando, algumas vezes, aquilo que vai apreendendo da formação contínua que realiza. De resto, eu tenho-me deparado com muitos porquês ou imensos suspiros quando proponho que se faça de outra forma ou que se leia aqui e ali para perceber porquê. A verdade é que os professores ou têm de facto pouco tempo - e temos, temos, passa da meia noite e estou a colocar no excel dados do diagnóstico que prometi trabalhar já amanhã com uma turma - ou "não estão para isso" porque são mal pagos e mal vistos ou, vou ser dura, para quem é "bacalhau basta". É óbvio que nem sempre é assim. Conheço muitos casos bem diferentes mas não se consegue, de um dia para o outro, alterar práticas e fazer o que a legislação prevê nas horas não lectivas. Costumam perguntar-me se os meus dias têm 24 horas como os outros.... têm.... também não recebo mais.... sinto-me é muito quixotesca por vezes, a lutar com moinhos de vento, a tentar que aceitem e percebam coisas tão simples como a necessidade absoluta de dar a conhecer aos alunos, sem ser de cor, a programação e a avaliação e fazer com eles várias aulas de diagnóstico com reformulações e aperfeiçoamento e trabalho mais individualizado.
Quanto à questão da escrita de investigação.... ui ui.... é difícil ver aceite investigação prática porque é também difícil fazê-la - a minha tese devia ter sido defendida há um ano :-D - digamos que é preciso coragem e loucura, duas características que, ultimamente, a par do cansaço, me definem. E é por isso também que muitas vezes sinto que nunca vos chegarei sequer aos calcanhares pois todos vós, caros confrades, já leram, trabalharam, escreveram, batalharam muito mais que eu. Eu vou tentando mudar um pouco do que se passa à minha volta, lançando sementes e esperando que o tempo, ternamente, e as condições, com menos ternura, façam o resto. Mas tenho esperança.
Pois, Teresa, também é uma realidade o que referes sobre a (falta de) vontade de muitos professores de aceder, estudar, actualizar-se, mas essa é outra questão. E mesmo quando acedem... Tive um professor que dizia que se verifica nos professores uma grande distância entre o novo conhecimento declarativo e o conhecimento procedimental - muitas vezes até contactam com, e defendem teoricamente, novas ideias, perspectivas, métodos, estratégias, mas isso não basta para experimentarem, para mudarem práticas ou evoluirem nestas, para alterarem as práticas e rotinas instaladas.
Mas continuo a pensar que a minha primeira questão é pertinente, até porque, como também dizes, há muitos outros professores que estão sempre abertos a estudar, actualizar-se, inovar.
Eu dou um exemplo da minha experiência. Depois do mestrado, o meu orientador deu-me autorização e facilitou-me continuar a ir usar um recurso de pesquisa (não me lembro do nome) que muito dificilmente um professor pode ter em casa pelo seu computador, mas foi uma autorização particular, o que não é sistema. Ora, há universidades que até têm as suas revistas científicas, mas estas circulam em meios fechados, e não vi até hoje preocupação em as mandar para fora, nem em que seja produzida literatura de divulgação científica. Tantos trabalhos de investigação no campo da educação terminam com "implicações pedagógicas", não seria de haver preocupação em as ir divulgando aos professores?
Penso que tens razão, Isabel. Os professores poderiam ter igualmente acesso a certas bases de dados, nem que fosse a Fuente Academica. Havendo acesso, provavelmente a vontade de aceder aumentaria; enfim, como diria Marx (ou seria Engels?) a liberdade é o princípio da necessidade.
:)
Olha Isabel vou dar um exemplo bem prático, bem recente e bem pessoal. Vi há dias um artigo meu recusado para publicação numa revista científica portuguesa que até prezo muito. Prezo-a porque é portuguesa, prezo-a porque tem qualidade, prezo-a porque admiro muitos dos que encabeçam o projecto. O artigo foi-me pedido, fiz o meu melhor, sendo que estava consciente que o meu melhor tendo sido mãe - naquela altura - há umas semanas não seria muito bom. Escrevi e caí talvez no erro de, a propósito do tema - TIC e inovação curricular - relatar a minha investigação que, sem perder de vista importantes linhas teóricas é extremamente prática. E complexa. Não vou aqui falar dela pois não é o lugar mas... queria dizer que essa recusa acabou por ser um enorme factor de crescimento pessoal para mim. Foi-o não só porque me tirou algumas pequenas ambições que eu pudesse ter mas porque percebi que, de facto, aquele artigo, pelo menos como eu o escrevera, não pertencia ali. Foi-me sugerido algo que eu acabaria sempre por fazer, oferecê-lo à Revista online do centro de Formação da minha área Proformar.org onde, aliás, eu já publicara duas outras coisas. Se chegar a ser aí publicado chegará mais facilmente aos nossos colegas docentes. Por isso, pus-me a pensar que nestas coisas, [deixa de ser ingénua Teresa Pombo] há hierarquias e que o meu lugar é onde eu faço mais falta: com os meninos e junto dos colegas.
Entretanto, estive hoje numa reunião conjunta de dois Departamentos. O Coordenador (-titular) fez - e ainda bem - algo que eu pensara fazer. Mas como já não era Coord. e ainda falta algum caminho para pensar em titularidades. E que foi isso? Reflectir sobre as práticas avaliativas da escola. A certa altura, lá participei eu na discussão, mostrando o que publicara aqui no Aragem. Além dele, numa sala com umas 12 ou 13 pessoas houve umas cinco intervenções. Apenas. Só. Tinha vontade de perguntar um a um coisas "estupidas" como "Ò colega, o que vai na sua cabeça?". "O que pensa sobre isto?", "O que tem a dizer?", "Como acha que deve ser feito"..., fiquei um pouco com a sensação de que se estava a pensar no que se iria fazer para o jantar :o) e pronto.... saí de lá com os desabafos feitos, com a energia gasta, sem saber muito bem para onde se caminhava e se as minhas questões e os meus alertas tinham feito sentido. Mas pronto, ele há dias em que me sinto muito Padre António Vieira. E quem sou eu afinal?
Um abraço!
"fiquei um pouco com a sensação de que se estava a pensar no que se iria fazer para o jantar". Teresa, só um comentário, breve para não nos desviarmos do tema da semana. Retirei do teu a frase acima para te dizer que não desanimes, apesar de eu ter conhecido muitas vezes essa sensação que referes. Mas, se conheci muitas vezes, outras não, e vai havendo sempre quem não esteja a pensar no que vai fazer para o jantar, acredita também. E esta é uma fase de desmotivação e desalento graças à 'habilidade' da ministra, mas a vida é feita de fases :)
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