Tinha uma enorme vontade de participar neste encontro de ideias sobre a Avaliação dos Professores mas sentia que pouca coisa de novo podia trazer à colação e por isso me tenho mantido em silêncio. Depois, comecei a lembrar-me de como sempre me bati pessoalmente ou em colaboração com Colegas por uma Avaliação dos Professores justa e, na quinta-feira passada, desloquei-me a uma Escola privada para um encontro com Alunos do 6º ano e tudo me voltou à mente.
Primeiro, e porque neste espaço pouca gente me conhece, começo por informar que o meu uso de maiúsculas é sempre intencional e significativo. Bem, o ambiente que encontrei nesta Escola que visitei fez-me um imenso bem: reconciliou-me com a Escola privada. Tudo o que pude apreciar me permite afirmar sem dúvidas que, ali, avaliar os Professores não vai ser difícil, sejam quais forem os critérios a ter em conta, incluindo, provavelmente, até os Pais e Encarregados de Educação. Para dar mais uma achega, a Escola tem mais de 1200 alunos, o que é obra.
Sei que estou a sonhar (mas não foi a sonhar que consegui tudo o que quis na Vida?), porque a realidade é profundamente diferenciada e não se deveria avaliar actores/acções diferentes com as mesmas medidas. Mas é preciso avaliar e confio que tal será possível a partir precisamente daqueles que, com razão, mais se preocupam com a Avaliação.
Por muito que nos custe, sabemos de antemão que são e serão os Professores mais dedicados, os Professores por vocação, que vão sentir mais na pele o que este sistema traz. Porque são esses os que se preocupam, os que se avaliam a si mesmos todos os dias na privacidade da sua consciência, após cada aula, após cada experiência, após cada teste. E, humanos que são, não podem nem querem ser avaliados como os professores "funcionalizados" que, em maior ou menor número, existem em todas as Escolas. Ser Professor é demasiadamente importante para ser trabalho de funcionários e, portanto, se não agimos como funcionários não podemos ser avaliados com os mesmos critérios. O Professor em cujas turmas alguns alunos não têm sucesso são os mesmos dos alunos que têm sucesso. Logo, o sucesso das turmas não pode ser critério de diferenciação. Mas a atitude do Professor perante o sucesso e o insucesso, por muito difícil que seja de Avaliação, essa, sim, merece sê-lo.
O Professor que reclama que não pode ser bom docente se tiver que permanecer 35 horas por semana na Escola, além das horas para as reuniões, está a lutar pela dignificação da sua acção. O Professor que "chora" o tempo que perde a preencher papéis criados por burocratas, tem todo o meu apoio e compreensão.
Mas se esse mesmo docente nunca tiver tempo para ir até ao recreio, se não for capaz de sacrificar um intervalo para ouvir um aluno ou uma turma inteira, aquele que não "vê" os Alunos quando passa por eles nos corredores e só é docente na sala de aula, esse não é Professor e pode ser facilmente avaliado: sem desprimor nem ofensa, como um simples burocrata.
Ora, o que eu temo é precisamente que a Avaliação, como estava prevista (há tanta mudança e medida avulsa!) "empurre" os Professores para a "funcionalização"! Mas, por outro lado, tenho a Certeza, mais do que a Esperança, de que em todas as Escolas há Professores que vão avaliar e ser avaliados dentro de um espírito de partilha que, sinceramente, eu não senti que existisse antes como factor de carácter geral: praticamente nunca conheci trabalho mais autónomo do que o docente. Será esse espírito de partilha, de entre-ajuda, que poderá fazer toda a diferença e os professores "funcionalizados" auto-excluir-se-ão naturalmente. O que significa que a sua avaliação será um processo fácil e, o que é mais importante, justo...
O que não poderemos evitar, na minha opinião pessoal e discutível, é que a Avaliação veio para ficar. Que, como qualquer mudança profunda (e eu desejaria que ela fosse causa de mudança de tudo o que está menos bem), ela vem sempre acompanhada de alguma injustiça que recai sobre os melhores. Mas que, após um curto período de tempo (assim seja!), ela acabará por se auto-regular. E então os bons e os maus serão facilmente reconhecidos como tal.
6 comentários:
"E então os bons e os maus serão facilmente reconhecidos como tal."
Como sempre o foram, Carmo :)
"Que, como qualquer mudança profunda (...), ela vem sempre acompanhada de alguma injustiça que recai sobre os melhores. Mas que, após um curto período de tempo (...), ela acabará por se auto-regular."
Mas será que a mudança que se está a implementar é profunda em termos qualitativos? (Lanço a pergunta à discussão)
Outra pergunta:
Se o espírito de patrtilha antes existia tão pouco, como a Carmo testemunha e eu também, será que a actual pressão para a funcionalização vai gerar (como reacção?) esse espírito? (Gostaria de ter a Certeza que a Carmo tem, mas bem-haja por tal Esperança :) )
Apenas desejo fazer uma pequena precisão e lançar uma outra visão do processo da avaliação de desempenho.
A precisão é que a avaliação veio para ficar, mas não foi agora. Foi há muitos anos quando se fez a anterior regulamentação do ECD sobre essa matéria. Claro que não pretendo defender a mais que duvidosa qualidade desse processo, mas apenas afirmar a falsidade da propaganda que afirma que só agora se avalia o desempenho docente.
Quanto à "outra" visão, tem exactamente a ver com o questionamento da qualidade do actual modelo e com os fins perseguidos. No entanto, para não me prolongar muito mais sugiro a leitura do meu post :http://fjsantos.wordpress.com/2008/09/28/avaliacao-armadilhada/
Não acho que a Avaliação de Professores esteja a gerar um espirito de partilha e união...
Se por um lado, nos juntámos todos numa gigantesca manifestação, por outro lado, encolhemos os ombros perante o que se passa em cada escola e sabemos de conversas que os (alguns) avaliadores estão a ter no sentido de subvalorizar e "carimbar" a documentação respectiva.
A questão prende-se com a defnição poítica de uma escola com identidade... e não sei se as escolas públicas terão essa identidade como as privadas!
Li o post do Francisco "Avaliação armadilhada" (que ele refere), em que diz: "(...)É por isso que a forma correcta de combater o eleitoralismo e a desonestidade demagógica deste modelo de avaliação (senão mesmo a única forma de o fazer), é renunciando a simplificações mistificadoras, exigindo seriedade e rigor nos processos e obrigando os órgãos de gestão das escolas e os respectivos avaliadores a cumprirem tudo o prescrito na legislação em vigor.
Por muito trabalho que isso dê a toda a gente (...)."
Sobre isto, deixo o comentário que deixei ao Francisco (ele já tem outra entrada posterior, e eu cá vou tentando provocar discussão aqui no Aragem):
Concordo com tudo o que dizes, mas faço um reparo: simplificação não tem que ser simplificação mistificadora. No prescrito na legislação em vigor há normativos absolutos, mas também há orientações relativamente abertas, e quanto a estas, tenho visto exemplos de documentos produzidos nas escolas que complicam parecendo mais papistas que o papa.
Ou será que a forma de combater o eleitoralismo e a desonestidade demagógica do actual modelo de avaliação (como dizes) é tomar no máximo à letra tudo o que está escrito nos documentos legislativos quer como normas, quer como orientações mais abertas e até sugestões em anexos, a fim de, ainda que com excessivo trabalho dos professores, se vir a tornar evidente a todos a sua inexequibilidade dentro da seriedade? Sobre isto não percebi muito bem o que está na tua ideia.
P.S.:
Desculpem o meu excesso de comentários. Mas abrimos aqui uma discussão, não foi? Então venham mais participações para a atear! ;)
Respondendo ao repto da Isabel de abrir a discussão, deixo a resposta ao comentário dela no meu blogue:
Isabel,
a “simplificação” de que falo está intimamente ligada à tendência que existe (desde sempre) entre os professores de interpretarem a legislação da forma menos trabalhosa e que “menos ondas faça”.
Claro que sei (mas a ministra também sabe, tal como todos os seus gurus) que a regulação ao nível da escola tenderá a interpretar e aplicar toda a legislação da forma mais favorável e de acordo com os interesses dos actores.
A questão que levanto é a de saber se os nossos interesses de curto prazo (simplificação do processo) não são o trunfo eleitoral com que a ministra e o governo jogam, para mostrar que a avaliação, não só é exequível, como está em marcha e vai de vento em popa.
Nessas circunstâncias, parece-me que tudo quanto impeça a aplicação deste modelo através da sua simplificação corresponde melhor aos nossos interesses de médio e longo prazo.
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