quarta-feira, setembro 24

Avaliação - Construir alternativas sensatas e possíveis

Aceito mais um desafio da nossa querida IC (sempre querendo sarar feridas, sempre procurando o máximo divisor comum, sempre na busca de alternativas à asfixia burocrática ou proletária ou mesmo dos mestres da catastrofe): o de construirmos colectivamente e pluralmente respostas para 3 problemas centrais que afectam do modelo de avaliação em curso.


Começarei pelo último parágrafo de um dos post sobre o suicídio profissional: Gostaria de acreditar que há inteligência suficiente nas nossas escolas para impedir que este cenário se desenvolva. É possível que as soluções, por uma vez, estejam dentro de nós. E não longe, em cima, algures....


Identifico, o que para mim são, 3 problemas centrais: tempo saturado, intenso, complexo; a burocracia (uniformidade, obsessão do escrito, perversão de tomar os meios pelos fins); a atomização e a fragmentação das práticas induzidas pelo modelo instituído.


Ora estes 3 problemas estão a gerar um acentudao desnorte, desgaste, esgotamento, desmobilização. Com a agravante de nos estarmos a perder no secundário (a matriz do suicídio profissional está aqui - a meu ver.


Face a isto, não há muitos, mas de qq modo, vários caminhos. Vejo dois (tipos ideais): berrar e encharcar-se cada vez mais no veneno,pedindo soluções de fora ou de cima. Ou agir, nos contextos da acção no sentido da sobrevivência profissional.


Por mim, opto pelo segundo caminho (sem descurar outros, que não o primeiro que jamais seguirei). No Terrear já sistemazei algumas ideias simples: só pactuar com as reuniões obrigatórias; definir sempre hora limite para a reunião (2 horas, se for possível só uma melhor); reservar sempre 5 minutos finais para avaliar da eficácia (que tem em regra bastante a ver com as metas que devem ser precisas); definir sempre o maior tempo para o que é essencial: pensar, procurar saídas mais sensatas (a isto chamo investigar) para fazer aprender os alunos, instituir a diferenciação pedagógica, avaliar, cooperar na produção de materiais que possam servir ao colectivo; não dedicar mais do que um tempo mínimo à burocracia avaliativa; definir e acordar objectivos idividuais minimalistas e que correspondam às práticas correntes; organizar um sistema de arquivo de dados e evidências (pode ser o portefólio ou outra coisa qualquer); resistir a todos as prisões das grelhas (que devem ser reduzidas ao mínimo absoluto).


Lanço o desafio aos confrades do aragem para que em entradas autónomas enunciem outras saídas possíveis saudáveis e dignificantes dos professores. Saídas que dispensem todas as tutelas infantilizantes e todas as obsessões doentias.


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IC -
Acrescento às sugestões do JMA:
Estabelecer uma relação cooperativa entre avaliador e avaliado, assente no princípio de que a avaliação é essencialmente formativa/construtiva.
(Isto será defendido por todos teoricamente, mas é preciso que seja mesmo praticado. Aliás, o avaliador que não se mostre capaz de estabelecer essa relação com os avaliados deverá (deveria) ser considerado inapto para a função de avaliador.

E... por que não assumir a prática de o avaliador disponibilizar a assistência a aulas suas antes de assistir a aulas do avaliado?)

______________
Miguel -
Se bem entendi as questões levantadas pelo JMA e o que elas sugerem, a operacionalização do modelo de avaliação do desempenho imposto pelo ME promove o definhamento profissional. E o seu apelo vai no sentido de encontrarmos “saídas possíveis saudáveis e dignificantes dos professores”. Isto é, para fazer bem o que nos pedem não devemos fazer exactamente o que nos pedem.
Questiono-me muitas vezes se este repto à simplificação, cada vez mais propagado na escola, ao invés de revitalizar a confiança dos actores situados não estará a gerar ainda mais entropia no sistema por não existir uma ideia suficientemente consensual sobre o significado de simplificar?

9 comentários:

IC disse...

Obrigada, caro José Matias. E já que a minha ideia era que o conjunto de propostas a que chegássemos colectivamente viesse a ser divulgada (como sugestões do Aragem) nos nossos blogues e outros cujos autores assim o entendessem e também (por que não?)fosse posta a circular por mail, sugiro que, em vez de entradas autónomas, as intervenções fossem acrescentadas a esta entrada com identificação de cada autor (como já fizemos há pouco tempo). Isto, claro, não impedindo entradas autónomas dos confrades que estejam motivados para isso. Mas penso que o método teria duas vantagens: 1 - permitir a confrades com menos disponibilidade acrescentarem sugestões pontuais; 2- facilitar a redacção do conjunto final.
Deixo a sugestão ao critério do nosso administrador - atenção, Miguel, 'esta' é para ti :)))

Anónimo disse...

A sugestão da Isabel parece-me bem. É o tal máximo divisor comum a que o JMatias se referia na entrada :)

Já deixei uma ponta no meu blogue para esta entrada... falta enviar um lembrete aos confrades.

Anónimo disse...

Deixo uma reflexão em

http://correntes.blogs.sapo.pt/148667.html

Passe a publicidade, mas a evita a saturante redundância.

Abraço do Paulo Prudêncio.

JMA disse...

Por mim, aceito o método da IC.

Teresa Martinho Marques disse...

"relação cooperativa entre avaliador e avaliado, assente no princípio de que a avaliação é essencialmente formativa/construtiva"

... e quando a acção do avaliado ao longo do tempo (anos) demonstrou que ajudou mais vezes na formação e crescimento dos que serão agora seus avaliadores? Vai acontecer muitas e muitas vezes... por razões várias relacionadas com a forma como foi construído o universo de avaliadores em muitos casos... não estou a apontar nenhum em especial... mas terei muitos exemplos próximos (demasiados)... Não... não... também não estou a berrar (muito)... nem a pedir soluções de cima para baixo... talvez lamente é a forma como não soubemos evitar, de baixo para cima, os critérios de constituição do grupo de avaliadores... premissa importante no processo e que a vicia profundamente situações que acho não serão a excepção...

Saídas... eu gostava de conseguir articular algo com sentido, ter alguma ideia mais luminosa do que apenas este tom de cinzento que aqui deixo... mas depois da lista de documentos que me chegou hoje por mail e que estou com dificuldade em digerir... hummmm... desculpem lá confrades... estou de mão na boca a ver se consigo não berrar mais um bocadito... preparando-me para o processo em jeito simplex, como sugerido (e não me parecem nada mal as propostas... embora na prática, pelo menos por aqui, não seja possível dar corpo às ideias) mas com a sensação de que serão mais a s inutilidades que as utilidades em todo o processo.

Desculpem a igual inutilidade da minha intervenção, dado o objectivo da entrada... por isso optei por escrever em comentário... local mais apropriado ao berrozito que não consegui evitar. Aguardo com expectativa contributos mais verdes... mais práticos, mais leves... Abraço

Teresa Martinho Marques disse...

correcção: premissa importante no processo e que vicia profundamente situações que acho não serão a excepção...

AnaCristina disse...

Faço minhas algumas palavras da Teresa: que fazer quando ouvimos avaliadores dizer "É só preencher o papelito e já está!"... Já ouvi isto e não quis acreditar! Quem de ânimo leve diz isto, não pode dar segurança a ninguém à sua volta...

O que é facto é que, como a Teresa disse, muitos avaliadores já foram ensinados nisto ou naquilo pelos avaliados... portanto qual a justiça dessa mesma avaliação? Que tipo de promiscuidade pode ou não haver?

Algo que me parece importante, além da relação cooperativa entre avaliador e avaliado, é a honestidade dessa mesma relação e isso prende-se mais com a personalidade de cada um do que com o processo avaliativo. Penso em duas ou três pessoas que já ouvi falar de avaliar outrém e que esfregam as mãos de contente por se irem vingar (sim, leram bem!), no entanto há frente do avaliado são mais puros que um unicórnio...

O processo avaliativo está, em alguns escolas, viciado desde o início!!

IC disse...

Eu penso que os professores devem lutar por todos os meios ao seu alcance para que o actual modelo de avaliação seja substituído por outro e que esse outro seja credível, justo e desburocratizado (e torná-lo tão simples quanto a legislação o permita - mas sem lhe retirar seriedade - não deve diminuir essa luta). Mas sabemos que tal não vai acontecer no imediato. Ora, enquanto não acontecer, ou os professores (incluindo, claro, os avaliadores) demonstram, na sua esmagadora maioria, seriedade, honesto sentido de justiça e capacidade de cooperação, ou então o actual modelo da avaliação até pode cair depressa, mas os professores não sairão com a dignidade que se espera da classe docente. Uma coisa é o processo em si - o que está legislado - não ser credível, justo e razoavelmente exequível, outra coisa são atitudes menos sérias, ou não honestas, ou de ausência de cooperação, ou até de falta de humildade quando esta deve estar presente, por parte de professores. Penso que há que distinguir uma coisa da outra. E a face com que a classe docente sairá destes tempos penosos que as escolas estão a viver será a face que a grande maioria dos professores tiver nestes tempos. Apesar do joio que há sempre entre todo o trigo, esperamos e acreditamos que seja o trigo a fazer a grande maioria - ou não acreditamos?

Miguel Pinto disse...

Por que nos deixamos enredar com as "contas de merceeiro", com as "engenharias" que apenas promovem a perversidade na avaliação dos alunos? Por que não delinearmos objectivos individuais exclusivamente formativos, apesar das grelhas sugerirem o contrário?