Simplificar para combater a burocracia, definir objectivos minimalistas que correspondam a práticas correntes, reduzir as grelhas ao mínimo absoluto. Estas são algumas sugestões do JMA que visam garantir a sobrevivência profissional face ao processo de avaliação do desempenho docente.
As sugestões são benignas mas não suficientemente claras para ultrapassar a ambiguidade conceptual que o próprio modelo de avaliação encerra.
Esta limitação acaba por fazer emergir a pergunta:
Será que este repto à simplificação, cada vez mais propagado na escola, ao invés de revitalizar a confiança dos actores situados não estará a gerar ainda mais entropia no sistema por não existir uma ideia suficientemente consensual sobre o significado de simplificar?
Não ouço nenhum professor defender a complexificação do processo de avaliação, apesar dos resultados expressos nas grelhas de avaliação, algumas vezes, sugerirem o contrário. As pessoas querem simplificar mas não sabem como se simplifica. Por falta de respostas, por inconsistências várias, por receio de entrar em conflito com a norma externa, o problema acaba por gerar instantaneamente a sua própria resposta: a produção da ambiguidade faz com que as normas pareçam mais consistentes.
Eis a solução: produzir documentos ambíguos! Houvesse confiança nas pessoas e nos processos situados e nenhuma escola teria problemas com a avaliação do desempenho.
3 comentários:
Óptima sugestão (que a doxa burocrática detesta, e não só a doxa ...). Por mim, não tenho grandes dúvidas que essa é uma saída-saúde poderosa e que muitas escolas vão usar, ainda que entre bastidores. (mas é bom saber que a escola é sobretudo isso).
Como no Aragem me sinto mais à-vontade - noutros blogues não me atreveria a confessar o que vou confessar -, confesso que, embora entendendo (julgo) a "solução: produzir documentos ambíguos", esta sugestão deixou-me um tanto perplexa! Deve ser da minha (de)formação na matemática, mas a verdade é que não me vejo a 'sobreviver' na produção da ambiguidade pois as ambiguidades causam-me sempre muito má disposição. Hum... será que resolveria o problema com umas pastilhas de Alka-Seltzer? ;) É que eu tenho muita necessidade de formulações precisas, o que não é contraditório com simplificação (nem tem necessariamente a ver com quantificações, que a estas sou muitas vezes avessa), nem tem a ver com burocracia.
Bem... o Miguel agora deixou-me confusa, mas... é capaz de ter razão!
Sobre este assunto deixei uma reflexão em:http://fjsantos.wordpress.com/2008/09/27/os-professores-enquanto-agentes-locais-de-regulacao-da-avaliacao/
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