terça-feira, fevereiro 26

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“Quanto a este nosso espaço - Bjork sussurra : it's all so quiet, shhhhshhhhh shhhhhh” (TsiWari)
A nossa atenção está, de facto, mais... mais "umbiguista"(?) do que seria desejável. E por falar em umbigos, tenho pensado muito sobre a situação actual, sobre o "pós-lurdismo" e a possibilidade de manutenção das políticas educativas. Tenho andado entretido lá no meu casulo, lançando os meus olhares sobre uma pequena face da realidade que me rodeia. Regresso a este espaço de partilha para vos dar conta da minha apreensão sobre o nosso futuro colectivo e o modo como devemos preparar esse devir.
Estou convencido de que esta ministra não terminará a legislatura, desde que os professores persistam na luta. Beemmm, admitamos que a ministra chegará ao fim da legislatura: quero crer que será inevitável a renovação na pasta da educação. Sócrates, com ou sem maioria, não se atreverá a romper o actual ECD: manter-se-á a divisão da carreira; o sistema de avaliação, talvez um pouco mais refinado; a mesma sobrecarga de trabalho...

A confirmar-se o cenário “mais do mesmo”, como transformar a actual e intensa onda de colaboração artificial numa cultura de colaboração mais genuína, em cada escola situada?

7 comentários:

José Azevedo disse...

Uma coisa que me parece faltar em muitas escolas é um espírito de corpo, de missão. Uma visão colectiva da finalidade do trabalho de todos os dias, um projecto no qual as pessoas foquem a sua energia.
Penso que a culpa é de um centralismo ministerial que tudo decide e tudo limita, inibindo a criatividade e transformando um trabalho tão importante e tão apaixonante numa rotina, com os professores sentindo-se dentes numa engrenagem.
Será isto? Ou será pelo menos um pouco isto?
E, se assim for, a actual reforma irá ajudar? A autonomia que se pretende dar às escolas será suficiente para que elas possam traçar o seu projecto? Terão elas condições materiais e humanas para isso?

ASHA disse...

Ontem, no CE duma escola, a propósito do programa prós e contras, numa conversa ouvida sem intenção de o fazer.. As personagens são a "belinhóbelix", o "Kocó temos que fazer porque sou lambe botas" e "Kacá boa já apanhei um tacho e nem sei como...":

- Ah! e ontem? aquilo não dignificou nada os professores. Deixaram ficar muito mal vista a classe dos professores.(belinhóbelix)
- E já reparaste k só são professores do norte? Isto é estranho.(Káca já apanhei um tacho e nem sei como...)
- Não havia lá ninguém dos conselhos executivos. Esses é que sabem bem porque estão no terreno.(Kocó temos que fazer porque sou lambe botas)

"Palavras para quê? São professores portugueses contaminados pelo vírus da partidarite, do dogmatismo e...,acima de tudo, da estupidez."

Infelizmento para todos aqueles que se recusam a fechar as portas do cérebro " Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar...
Realmente, já dizia Pessoa que a inconsciência é o caminho para a felicidade...

Qualquer semelhança entre este texto e a relidade não é mera coincidência!!!

IC disse...

Miguel gostei MUITO da tua pergunta. Neste momento não consigo dar nem um grãozinho de contributo para respostas. Não tanto por já não estar no terreno (mantenho contactos e nem me está a ser muito preciso estar lá para quase que o visualizar), mas porque muita coisa já me está a pôr em estado de atordoamento (não me ocorre termo melhor e mais exacto) relativamente às questões da política educativa e das escolas. (Vim mesmo agora do blog da 3za, pelo respectivo post li só agora todo o despacho das delegações - ainda só tinha dado uma olhadela - e já não consigo ver ponta por onde se pegue em tanta medida imponderada).

Mas não quis deixar de manifestar a minha opinião de que a pergunta do Miguel é muito pertinente e valeria a pena agarrar nela aqui no Aragem.

Teresa Martinho Marques disse...

Pois... concordo... não sei se conseguirei estar à altura... neste momento a minha vida está transformada num absoluto caos (tento que não transpareça muito, mas a saúde começa a dar sinal por conta do desprezo a que é votada e os maus horários e hábitos com que tem sido tratada). Adiante... dói-me não ter resposta e dói-me mais o facto de neste momento a escola parecer um formigueiro onde já ninguém conversa sequer com ninguém. O golpe final foi o desaparecimento da sala de fumadores que era o "pulmão" negro da escola, sim senhor, mas também o único ar que ia correndo (que tristeza dizer isto). Agora nem isso. Os professores que ainda permanecem agarrados ao vício saem a correr para a rua nos intervalos, rebanho tresmalhado, tertúlia conspirativa terminada... eu, que não encontro na sala de profs as cabeças com quem gostava de trocar uns dedos de conversa, por entre uma nuvem de fumo, fecho-me na sala com os miúdos... vou mais cedo ter com eles, saio mais tarde, evito conversas parvas e tudo isto é uma enorme tristeza... (confesso-me uma f."ocasional" a quem todos invejam... posso tocar num prego de 15 em 15 dias e faço-o agora apenas na faculdade, uma vez por semana à beira de um café, com livro na mão, por revolta adolescente - antes queimava um ou dois no máximo por dia, na escola - lá fica o meu currículo manchado para sempre de nicotina e desço pontos na consideração ecológica dos confrades...). Portanto, mesmo estando agora as escolas livres de fumo, nunca o ambiente andou tão intoxicado... Solidariedade, sim, aos poucos um bocadinho. Mas sempre do tipo: olha... vai tu que tu tens jeito para estas coisas. Olha, escreve tu que tu já estás habituada... ou ficar tudo caladinho numa reunião a tomar apontamentos do que têm de fazer e eu sentir que devo ser a única que tenho um problema por reclamar com a parvoíce dos portfolios - eu não disse que as escolas iam pedir? Na minha "sugerem" e tal... com uns domínios pré-determinados a respeitar e que materiais e tal se colocam. Hoje confesso que estou desanimada (depois de me pedirem/sugerirem esta semana portfolios - duas reuniões de departamento e quatro disciplinas que atraem muito papel...). Decidi pois procrastinar... pela primeira vez na vida estou numa de deixar andar as parvoíces da avaliação na escola a ver no que dá... na esperança de que possa haver uma volta qualquer, mantendo, claro, aceso o combate, mas sem grande agitação que o coração não aguenta (e não estou a brincar... não é metáfora... infelizmente). Embora seja difícil para mim (não sei fazer coisas por alto, superficialmente, e isso gera em mim ansiedade e cansaço extremo por persistir em tentar chegar a tudo como dantes), preciso urgentemente de aprender a poupar-me. Ou isso, ou o shô doutor um dia manda-me dedicar-me só às artes...:) Colaboração na escola situada? Está difícil nos tempos que correm... é mais fácil para as pessoas sairem para a rua juntas, que trabalharem juntas... não tenho resposta, infelizmente... mas dá para perceber que gostaria de ter. Pois...

IC disse...

3za, eu diria que este teu comentário merecia lugar de mais destaque se não fosse a questão dos fumadores e das extintas salas de fumo (fumadora me confesso admitindo que sou pecadora), questão que será "politicamente incorrecto" referir. ;)
Mas quero deixar aqui dito que, por muito que saiba que nas escolas há muito que precisa de ser corrigido, melhorado e até eliminado, e, para isso, uma avaliação é precisa, a constatação da tua evolução para o cansaço, o desgaste e, por momentos (momentos só?), o desânimo, tem sido para mim o exemplo suficiente para não ter dúvidas nenhumas sobre os revoltantes efeitos da actual política educativa, sobretudo (mas não só) pelas normas da sua aplicação.

Teresa Martinho Marques disse...

Pois... contaminei com nicotina o comentário, foi prókemedeu!(Mas, oh pecadora, pelo menos não desci pontos verdes na tua consideração eh eh eh... até já me rio, o que é bom). E sim, desânimo, por momentos, momentos... embora com repetições aqui e ali... Mas vai passando... até ver, vai passando. Sempre que estou com os meninos (nisso tenho sorte). Só que é um sinal realmente, como o foi a tua saída da escola, como é eu fazer contas a 33 anos de carreira e mais de 50% de penalização para poder ir cumprir outros sonhos. Coisa que nunca me havia sequer passado pela cabeça. MAs, em frente... Agora é tempo de erguer a cabeça e avançar o possível sem esmorecer...

António Chaves Ferrão disse...

Interessante debate. Para não guardar surpresas, declaro que também sou fumador. Mas o ponto parece ser o desânimo; aquele desânimo que não faltou ao professor Manuel Cordeiro de Ribeirão. Pelo menos até aguentar sozinho os cornos do touro. Agora, por dever de solidariedade, todos os professores podiam contribuir para desmontar publicamente os métodos usados na destruição da escola por via da instauração do facilitismo. Talvez aquele programa não fosse o mais adequado, mas a besta foi tocada e o tiro certeiro. Quem quer chegar-se à frente?