A proposta parte de pressupostos falaciosos (que já referi no Terrear), está imbuída de uma estrutural desconfiança em relação aos professores, e repousa na ilusão do controlo e da concentração de poder.
Assim, algumas supostas soluções vão ser antes problemas; e a lógica do controlo é claramente insuficiente para promover outra implicação dos professores, alunos e pais no ensinar e no aprender.
Não me parece, contudo, que esta proposta, em si mesma, seja um ataque à escola pública e um caminho para a privatização. Não consigo ver as evidências ou mesmo os sinais que revelem este risco... Até digo mais: a escola pública que temos, em muitos aspectos, é pouco pública, isto é, não está ao serviço de todos e sobretudo daqueles que mais precisam....
Falta de confiança nos professores?
Ilusão de controlo?
Como é que algumas soluções vão tornar-se em problemas?
Ataque ao ensino público? Sim? Não?
O que pensa das opiniões de JMA?
Por seu turno, Henrique Santos, subscrevendo a tese da "lógica de controlo" e associando-lhe a “lógica economicista”, em que uma e outra se complementam e aprofundam, salienta o carácter neoliberal da reforma, que atribui ao modelo Inglês. Denuncia a tentativa de isolar os professores, através dos pais e das comunidades e salienta o carácter inédito do actual modelo de gestão.
O que pensa das opiniões de Henrique Santos?
Que modelo de gestão é este?
Que resultados tem dado? Em que medida (se é que) tem contribuído para a melhoria da qualidade do ensino?
Estas lógicas de acção são transportáveis para uma sociedade como a Portuguesa?
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5 comentários:
Das opiniões de JMA sublinho que a aparente desconfiança estrutural nos professores é sobretudo retórica. Estou convencido de que, tanto a equipa ministerial, como os colaboradores que participaram na elaboração desta proposta, não têm nenhuma desconfiança à priori contra os professores. O que se passa é que, na lógica de aproximação à opinião pública, aos pais e em particular ao poder autárquico, é conveniente passar essa ideia.
Já no que respeita à questão do controlo, ilusório ou não, é algo que está inscrito na matriz do pensamento deste governo. Acredito que pela sua formação a ministra tenha consciência de que o que JMA diz: «…o poder dos professores é muito maior que o decretado. E que continuarão a ser a pedra angular de qualquer mudança positiva. E que contra eles é muito difícil fazer o caminho da melhoria.» é uma evidência. Mas a tentação de agradar ao chefe e o trabalho em equipa com os secretários de estado acabam por traí-la.
Finalmente, no que a um suposto ataque ao ensino público diz respeito, partilho em absoluto da leitura feita por JMA. Se há algo que para mim sobressai no documento é uma lógica de centralização e de reforço do poder de controlo dos directores regionais, nem sequer me parecendo que haja uma efectiva abertura a uma municipalização desse controlo político das escolas.
Quanto à opinião de HS parece-me que tem alguma razão no que se refere a uma perspectiva economicista, que no entanto só é possível entender quando olharmos para o conjunto das medidas aprovadas pelo ME, desde o ECD, passando pelo incentivo à participação das escolas públicas nas iniciativas das Novas Oportunidades e consequente possibilidade de acesso a fundos estruturais, que até agora eram sobretudo aproveitados por entidades privadas.
Quanto à semelhança com o modelo inglês, penso que HS não tem razão uma vez que o que se verifica é que de um modo geral todos os países ocidentais, e em particular os da EU caminham num mesmo sentido, mesmo quando partem de tradições diferentes. Sobre este assunto julgo interessante a leitura dos textos do estudo «REGULEDUCNETWORK - Changes in regulation modes and social production of inequalities in education systems: a European comparison», disponíveis em http://www.girsef.ucl.ac.be/europeanproject.htm
Venho só agradecer ao fsantos, pela parte que me toca, o acesso ao estudo que indicou. Pelo pouco que já li também me parece uma leitura de interesse. E gostei de recordar, no texto do João Barroso e outros, a nossa 'história' da Educação desde Abril de 74.
Também li, do estudo, umas "recomendações finais", apeteceu-me logo transcrevê-las, mas como não serão lidas por quem deveria lê-las, não vale a pena...
Venho deixar uma palavra de apoio a este blog quando encontro por aqui uma actualidade que merece toda a discussão por parte de todos.
«É um imperativo ético a escola fazer o que deve fazer para promover a qualificação dos alunos. O que não deve fazer é confundir certificação com qualificação. O que não deve fazer é aligeirar a qualificação para acelerar a certificação!»
Um abraço
Num dos seus comentários ao post anterior, a Idalina apelou à "utilização de argumentos sólidos e, preferencialmente, com referências de investigação em administração educacional". Mas, no caso da realidade portuguesa, que investigação? Recorro a João Barroso(*), que aponta "os limites dos estudos e das análises comparativas que se ficam por uma análise macro-estrutural". Apontando a necessidade de desenvolver a investigação, João Barroso(*) refere a "excessiva colagem da agenda da investigação à agenda política", agenda que "deixa, muitas vezes, de fora uma questão mais importante e para a qual dispomos ainda de pouca informação cientificamente fundamentada: - a identificação e a descrição das diversas instâncias de regulação ( (...) ), bem como dos processos utilizados e dos seus efeitos no funcionamento local e global do sistema".
Tivemos, após o 25 de Abril, um modelo de gestão que, como já foi lembrado, foi considerado o mais avançado da Europa. Em que avaliação se basearam as alterações? Que causas de ineficácia foram estudadas e apresentadas?
Evocam-se tanto, entre nós, as "ciências da educação", mas será que o tempo necessário a "pesquisas intensivas através de estudos de caso em escolas, ou conjuntos de escolas, mas também e, principalmente, em estudos mais extensivos, (...) para ter em conta os efeitos das micro-mudanças", será que o tempo necessário a isso é, afinal, incompatível com as urgências dos governos? Não passou tempo suficiente?
(Ou será que de 2003 - data da minha citação - até agora se avançou mesmo na investigação no caso português, e, simplesmente, eu não estou a par dela?)
Enfim... não adianta lamentar, resta raciocinar à luz (também) da experiência dada pelas observações directas, pela experiência no terreno.
(*) João Barroso (2003). Regulação e desregulação nas políticas educativas: tendências emergentes em estudos de educação comparada. In João Barroso (Org.), A Escola Pública. Regulação Desregulação Privatização. Ed. Asa, Colecção em foco.
P.S.
Citações: pp 41, 42
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