A propósito do desenvolvimento do processo “Apito dourado” [uma novela da vida real onde figuram actores do mundo (ou do sub-mundo) do futebol], pensei no enorme paradoxo dos órgãos de comunicação social e dos “altos” responsáveis pelo fenómeno desportivo, que se entretêm a reclamar para o desporto uma áurea de princípios éticos [o fair-play aparece debruado nos palcos desportivos e nas retóricas desta gente], enquanto convivem silenciosamente com o desrespeito desses princípios em vários domínios de actividade social.
Que grande descaramento!
9 comentários:
A despropósito deste teu post mas a propósito de desporto, apanhei ontem na sic notícias, já a meio, uma história de um jovem jogador profissional em vídeojogos (ou coisa parecida, devem ter nome específico que não apanhei)que ganha milhões nisso. Duas coisas me bateram na cabeça:
1- Nova forma de desporto na berra, comparada aos desportos radicais. Sentados no pc...esclarece-me, Miguel, qual o significado da palavra desporto? (A sua origem etimológica, se te lembrares)
2. O objectivo de um dos jogos era (ou é habitualmente nesses jogos, não percebi) encurralar o adversário num compartimento para aí o desfazer aos pedacinhos. Claro que o desfaz virtualmente, mas o adversário é outra pessoa que está a competir. (O jovem disse que, com os últimos milhões que ganhou, agora é que ia convencer a mãe, de quem se separara por ela não consentir essa carreira profissional)
Pelo que ouvi, isto é o desporto do futuro! (E já popularíssimo entre os jovens)
Que pensas disto?
P.S. Deixo a pergunta também ao Miguel Sousa
Lá vem o morango-peixe... Aparências e realidades também no desporto? Que bem que a foto ficaria aqui, Miguel!
E, IC, felizmente não vi a notícia... acho que teria tido pesadelos. Espero que não se lembrem de criar um jogo desses em que seja um professor a ficar encurralado no tal compartimento... Cruzes! Que ideia a minha aqui no meio da Aragem! Janelas!Por Favor! Ponham janelas no compartimento! (Entra a aragem e foge o professor...)
A Isabel convida-nos a mergulhar na natureza do desporto e o exemplo que descreve sugere um desporto fundado na ideia de jogo, enquanto actividade social e de natureza lúdica. É uma definção redutora e defeituosa de desporto. O Desporto confundido com jogo [tese lúdica] seria pouco defensável porque deixaria de fora os aspectos de aperfeiçoamento e de progresso desportivo. O ludismo poderia opor-se ao esforço exagerado e à caminhada dos desportistas até à superação.
A natureza do desporto pode ser definida como uma experiência de auto-conhecimento que o homem como ser físico executo no sentido de uma interacção natural mente-corpo (concepção-acção). (Adroaldo Gaya et al.1998) [não confundir esta tese com uma concepção dualista, corpo e mente]
Esclarecida a questão conceptual, o Miguel Sousa terá muito a dizer acerca das questões ligadas à actividade física ou a ausência dela.
Bom desafio, Isabel. :)
Tirem-me desse jogo, Isabel. ;)
Caros amigos, já algumas vezes desabafei essa mágoa no meu campo de treinos. Imaginemos que estamos a falar de uma espécie de “culturas”, o que se passa é que o Desporto, a Educação Física, a Escola e a Família, estão a sofrer uma transculturação do sedentarismo, uma nova cultura, onde os jogos de computador e afins mandam.
É engraçado que as escolas vivem o choque tecnológico, tal como o país, o rumo é o afundamento do Sistema nacional de saúde, não porque seja impossível de gerir, mas sim porque os valores dos gastos com patologias oriundas dos maus comportamentos, - onde se encontram o sedentarismo e a alimentação hipercalórica – tornaram-se incomportáveis. Os americanos chegaram a esta conclusão há muito tempo, pois sentiram que as questões de saúde associadas “às patologias do sofá e da batata frita” estavam a levar o país à bancarrota. Portugal só verá isso daqui a umas décadas...espero viver até lá, para (desculpem a maldade) atirar umas pedras.
Caros amigos, obrigada por terem respondido, mas não focaram um aspecto que também me impressionou (só a Teresa focou): é o conteúdo agressivo, violento do jogo. Nas competições desportivas o objectivo é vencer o adversário, mas não agredi-lo (mesmo no box não se deseja matar ninguém), o que me impressionou foi a paixão pelo objectivo: matar. Os jogos de pc com essas violências já não me parecem salutares, muito menos quando se trata de competições entre 2 adversários humanos, às tantas na mente mistura-se o virtual com o real, ou não? E trata-se de competições em que se pode entrar muito novinho ainda (também mostraram um prometedor futuro campeão, uma criança de 7 ou 8 anos)
essa agressividade é o hamburguer do jogo....sabes porque é que os hoquei em patins não vingou nos jogos olímpicos, porque é light, é melhor o oquei no gelo..
Não sei se foi intencional, mas o desafio da Isabel é complexo e pertinente. Como referiu, e bem, o Miguel: estamos num tempo em “que o Desporto, a Educação Física, a Escola e a Família, estão a sofrer uma transculturação do sedentarismo, uma nova cultura, onde os jogos de computador e afins mandam”. Acresce-se a esta metamorfose cultural os apelos sistemáticos às “anfetaminas tecnológicas” que o Miguel designou de “hamburger do jogo” e que não é mais do que uma cópia pirata do jogo desportivo. Ora, é neste quadro que se impõe uma análise profunda [etimológica?] à natureza de desporto e perceber o que não cabe nessa definição. E não cabe no conceito de desporto este tipo de jogo e este tipo de competição porque o desporto deve ser iluminado por critérios éticos e humanos.
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