sábado, novembro 24

Os perigos da educação


Penso chegada a hora de uma "perestroika" educacional, ou seja, de um repensar do processo e da substância da educação a todos os níveis, começando por admitir que muito do que há de mal no mundo é o resultado de uma educação que nos aliena da vida em nome do domínio da espécie humana, fragmenta em vez de unificar, dá demasiada ênfase ao sucesso e às carreiras, separa sentimentos de intelecto e o prático do teórico, e liberta no mundo mentes ignorantes da sua própria ignorância.


David Orr
Heart in Mind

(tradução minha)

Do mesmo autor, ver também o artigo What is education for?, onde Orr apresenta os 6 mitos da educação moderna:
  1. A ignorância é um problema resolúvel.
  2. Podemos gerir o planeta se tivermos suficiente conhecimento e tecnologia.
  3. O conhecimento está a aumentar, e com ele a bondade humana.
  4. Um ensino compartimentado resultará numa aprendizagem integrada.
  5. A finalidade da educação é a ascensão social.
  6. A nossa cultura representa o apogeu da civilização.
No mesmo artigo, o autor apresenta 6 princípios para repensar a educação para um planeta em declínio:
  1. Toda a educação é educação ambiental.
  2. O objectivo da educação não é o domínio dos conteúdos, mas de si próprio.
  3. O conhecimento traz com ele a responsabilidade de fazer com que ele seja bem utilizado.
  4. Não podemos dizer que sabemos alguma coisa se não percebermos os efeitos dela nas pessoas e nas comunidades.
  5. O exemplo é mais importante que as palavras.
  6. A maneira como se aprende é tão importante como o conteúdo.

13 comentários:

JMA disse...

Tendo a subscrever.

José Azevedo disse...

Ainda bem, jma.
Eu meço o interesse dos livros que leio pelos rabiscos que lhes faço. E este está a ser todo riscado e- grau máximo do interesse- rascunhado nas margens.

Paideia disse...

A mim, uma das coisas que me preocupam é a excessiva moratória social, de jovens que acabam a sua formação já em cima dos trinta anos sem experiências profissionais relevantes.
Que consequências advirão, em termos de vida pessoal e social, de adaptação à vida activa?

José Azevedo disse...

Não sei as consequências, mas também me preocupa a imaturidade da maioria dos nossos estudantes do ensino superior. Lembrou-me um artigo de Frank Furedi, que li há tempos.
Preocupam-me as bebedeiras, o "quer ser cá da malta", o "espírito académico" significando apenas farras e noitadas, o diálogo e as preocupações sociais substituídas pelo "abanar o capacete".
E vou fazendo o que posso para mostrar outros caminhos.

Paideia disse...

Pois, José, mas essas manifestações tendem a desaparecer ao ritmo dos ciclos de vida, não é?
Não sei que idade o José terá, presumo que seja mais novo que eu, mas eu tb tive as minhas formas de revolta juvenil, e bem radicais; só que os tempos eram de guerra nas colónias, de isolamento político do país, de repressão. Agora, como é que um indivíduo ganha maturidade pessoal, social,vocacional, se permanece na escola até tão tarde?

Cristina Gomes da Silva disse...

Bom dia,

a permanência prolongada na escola não pode adormecer as consciências cidadãs, bem pelo contrário. Hoje não temos guerras "à porta" mas temos ameaças globais para cuja redução dos efeitos todos podemos contribuir. E a escola o que é que faz? Com "acorda" as cabeças que também precisam de "abanar o capacete"?

Teresa Martinho Marques disse...

A escola... exigem-lhe um tudo que acaba por ser tão pouco. A essência do mais necessário (aqui evocado através de um livro) vai-lhe passando ao lado. Realmente é fundamental uma mudança, uma nova forma de olhar a escola e a educação. Não chega confiar nos atentos e nos visionários, figuras pontuais...

Adkalendas disse...

Não concordo com os princípios enunciados por David Orr. Nem com o primeiro, nem com o segundo, nem com o quinto e o sexto.
Não exageremos em tendências voluntaristas que caem no mesmo erro das correntes pedagógicas que pretendem criticar.
Ah! Que falta de sentido histórico cada vez mais notório nas sociedades actuais!
Ignorância mascarada, é o que é.
Mas este comentário é feito só a partir do enunciar destes princípios. Vou ler mais do autor para confirmar, ou não, esta primeira impressão.
Mas detesto ideias feitas, isso detesto.

IC disse...

Não será que haverá uma "perestroika educacional" quando a escola deixar de ter uma função reprodutora da sociedade vigente para passar a ser um lugar de cultura, formador de indivíduos autónomos, capazes de entender o mundo que os rodeia, de o interrogar e de terem pensamento crítico? Que prepare profissionalmente, sim, mas que lhes dê também isso?
Eu sei que é um lugar comum, estafado, isso de dizer que a escola tem uma função reprodutora, mas não é isso que os políticos e outros sempre pretenderam e continuam a pretender? Por isso confesso que estou cansada de teorias, não são elas que faltam.

Desculpem, estava com insónia e vim ao computador, mas a horas tão tardias a cabeça está oca...

henrique santos disse...

Não estará o autor a atribuir demasiadas culpas à escola? Culpas essas que não lhe cabem em primeiro lugar. Faço este comentário a partir da leitura do excerto que o José traduziu, onde me parece bem visível o que critico.

Anónimo disse...

mt interessante o blogue. n conhecia.

deixo uma dica de um autor novo que merece ser divulgado:

www.tiagonene.pt.vu

Bi.

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Fantástica partilha, muito obrigada. São livros como este que denunciam a grande mudança a ser feita na educação, nos educadores e nos educandos...em todos nós em vista a uma melhor sociedade. Esta é a VERDADEIRA MUDANÇA! Achei piada aos rabiscos no livro, deve ser deveras interessante,tenho que investigar numa próxima visita a uma livraria!

José Azevedo disse...

Fazendo um balanço, que a época presta-se a isso :-)

paideia pensa que a falta de maturidade dos jovens tem a ver com o facto de ficarem tanto tempo na escola, e cristinags e ic dizem que a escola tem a responsabilidade de acordar as consciências para os problemas do nosso tempo, que são tão ou mais graves que os de gerações anteriores. A isto 3za e henrique santos notam que à escola são assacadas responsabilidades que têm que ser suportadas por mais ombros.

De facto, o problema tratado neste livro (o da crise ambiental e das catástrofes eminentes) é um problema da sociedade, de todas as sociedades. No entanto, a chave para a sua resolução está na escola. Não quer isto dizer que a responsabilidade é dos professores: a sociedade, como um todo, tem que se empenhar em ter uma escola que corresponda ao que é necessário na nossa época.

Também detesto idéias feitas, adkalendas. Leia o artigo que eu cito, e depois conversamos. Falta de sentido histórico é uma coisa de que não pode acusar David Orr. Ele tem inclusivamente essa coisa rara, que é uma visão do futuro alicerçada num conhecimento profundo e integrador do que aconteceu no passado em termos ambientais.