O colega Gustavo decidiu olhar para o desporto escolar. Embora tenha assumido, desde logo, um relativo afastamento do quadro em que se desenvolve o desporto escolar, os seus apontamentos revelam uma enorme acuidade e sensibilidade para as questões que marcam a agenda das actividades desportivas escolares.
Foi este o meu pretexto para olhar mais longe, para abrir uma porta que se encontrava entreaberta. Os dois textos foram retirados de um estudo académico e por esse facto decidi manter as referências bibliográficas tal e qual elas se encontram no documento original. Então aqui vai o primeiro texto.
O DE não tem sido capaz de chegar à maioria dos jovens que frequentam as nossas escolas. Um estudo de Marivoet (2001) sobre os hábitos desportivos dos portugueses apresenta-nos um conjunto de elementos que nos interessa sublinhar. Embora as actividades do DE sejam as mais procuradas pelas crianças e jovens, quando confrontadas com a oferta desportiva fora da escola, apenas 35% dos pais inquiridos (com filhos até aos 15 anos de idade) afirmavam que os seus filhos desenvolviam uma actividade desportiva na escola (neste estudo, a prática na disciplina de EF não foi considerada porque é obrigatória). É pouco? De uma forma simplista, todos concordamos que seria desejável aumentar essa participação. Mas os dados deste estudo dizem-nos mais: 18% dos pais afirmam que os seus filhos desenvolvem uma actividade desportiva de lazer, onde apenas 9% estão integrados na competição federada. Os números revelam que o desporto extra-escolar não constitui uma alternativa ao desporto escolar, porque não tem essa obrigação, porque não será a sua vontade, e porque não será esse o seu desafio. Olhando com mais profundidade para estes dados, somos assaltados por uma questão: As actividades desportivas do DE devem ou não, entrar numa lógica concorrencial com outras actividades educativas? Consideramos que é mais importante respeitar a liberdade de escolha do aluno, num quadro alargado de actividades culturais promovidas por diferentes clubes escolares (incluindo os clubes desportivos), do que restringir essa oferta a uma só actividade extracurricular na escola, transmitindo a ideia aparente que o nosso DE é “a actividade da escola”.
Não há efectivamente uma actividade que possa ser considerada como “a melhor”. Todas as actividades de complemento curricular que visam o enriquecimento cultural e cívico, a educação artística e a inserção dos educandos na comunidade estão legitimadas pela lei (LBSE) e pela relevância social dos seus objectivos.
Subscrevemos a posição do Confederação do Desporto no que diz respeito à necessidade da complementaridade entre o sistema desportivo e o sistema educativo no processo de preparação desportiva da criança e jovem. Seria uma afirmação leviana responsabilizar o DE na pretensa incapacidade de promoção de hábitos desportivos nas crianças e jovens. Se atendermos aos dados do estudo, “evidenciam a importância da transmissão de valores de cultura físico-desportiva na instituição familiar na aquisição de hábitos desportivos nas gerações mais novas” (Marivoet, 2001:89). No entanto, sendo a escola uma das mais importantes instituições socializadoras da cultura físico-desportiva não pode ficar isenta de responsabilidades nesta matéria.
A participação dos jovens em actividades físicas e desportivas regulares é um elemento fundamental para a promoção de estilos de vida saudáveis e recomenda-se uma intervenção junto dos jovens no sentido de alterar os seus hábitos de vida que apontam para o sedentarismo (Sallis e Patrick, 1994). Esta intervenção ganha maior pertinência quando confrontamos os resultados de estudos que indiciam um declínio da actividade física com o aumento da idade (Sallis e Owen, 1998). O prolongamento da prática desportiva dos jovens fora da escola será para a escola e para os seus profissionais um desafio que não deverão rejeitar. O desporto escolar poderá ser uma das soluções para inverter esta tendência.
Roberts (1996) dá-nos conta de um estudo realizado na Inglaterra e País de Gales que provou que o desporto escolar é uma história recente de sucesso, se o sucesso for medido em termos do número de alunos que continuam “a praticar” após a sua saída da escola. “É sempre difícil atribuir a causalidade, é impossível prová-lo, mas há evidências que sugerem que as características dos curricula dos desportos das escolas e a oferta do desporto na comunidade onde se inserem os jovens são, provavelmente, as causas responsáveis por este sucesso” (Roberts, 1996: 105).
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