sexta-feira, outubro 9

Criatividade no ensino precisa-se!

A pedido da Isabel Campeão, publico aqui o meu último post.
Seguem-se algumas questões da Isabel que poderão servir para provocar alguma discussão e dar uma ar fresquinho ao Aragem. Que tal?

"Terça-feira, Outubro 06, 2009
Começo a conhecer, pouquinho a pouquinho, as minhas turmas (7ºano). Esta sensação é sempre engraçada: cada turma é composta por 20 a 25 adolescentes que tento sempre conhecer bem na sua individualidade, nos seus gostos e interesses, sobretudo, nas suas necessidades de aprendizagem.
Tive três aulas hoje; apenas uma com a turma completa; as outras duas com grupos de apoio. O primeiro grupo de apoio: brincalhão e desmotivado; as estratégias a seguir terão que ser essencialmente lúdicas naquele pequeno espaço em que procurarei que me tragam as dúvidas que são incapazes de expor frente ao grupo-turma completo. Esperava o pior do segundo grupo: demasiado grande, muitos rapagões que na aula facilmente se distraiem. Fiquei boquiaberta: postura extraordinária de quem reconhece que precisa da minha ajuda extra: foram concentrados, agradáveis, trabalhadores; saí de lá feliz e muito orgulhosa deles.
Mas.. vamos à aula da manhã: último tempo, antecedendo a hora de almoço com um grupo de 25 conversadores, inteligentes mas agitados. As minhas aulas são normalmente muito participadas pois parte do meu trabalho passa muito mais por puxar pelos neurónios deles do que expor conteúdos (só se aprende a ler e a escrever, lendo e escrevendo e, sobretudo, pensando: a gramática é só para dar uma ajudinha).
Hoje íamos finalmente constituir os grupos e iniciar as leitura dos contos tradicionais que deverão passar a narrativas digitais (ver em
http://eestorias.wordpress.com). Antes disso, uma pequenina tarefa de escrita. A forma como reagiram levou-me depois a pensar na diferença de modos de ensino. A forma como a propus é natural para mim (os meus alunos costumam habituar-se depressa ao facto de eu "fazer diferente" e convivem bem com o facto; sou chata, faço-os trabalhar muito mas convivemos bem). Vejamos:
MODO UM (o que eu não usei): "Meninos vamos aprender como se faz uma Biografia, têm aqui uma fichinha e tal ; isto faz-se assim e assado, perceberam? toca a fazer a Biografia da pessoa tal... sem hipotese de escolha..."
MODO DOIS : ora bem, os contos populares que vão hoje começar a ler foram recolhidos por um escritor chamado Teófilo Braga. O nome diz-vos alguma coisa? Alguns lembraram-se de ter ouvido falar dele nas aulas de História e Geografia e Portugal :-) e sabem que data se comemorou ontem? Implantação da República... quase 100 anos! E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? pois bem se são uma e a mesma pessoa, não acham que merece uma Biografia? Dou-vos 3 coisas: duas datas e uma nuvem. Uma nuvem? Sim. Uma nuvem de palavras. Ganha a Biografia que conseguir usar mais palavras desta nuvem. E vruummm.... lá foram eles... todos.... aplicadíssimos a fazer a tarefa... e sempre preocupados porque eu sou tão má que lhe dou limites temporais. Ainda não vi os resultados mas para mim o melhor já foi... o gosto por escrever e descobrir, no final, quem foi Teófilo Braga."


"Modo um" - o que não usaste mas que é o usado pela maioria dos professores;"Modo dois" - o que usaste e deveria ser usado por todos os professores.
O que é preciso para que grande parte dos professores mudem os seus métodos, que são os mesmos com que foram ensinados, e a geração anterior idem, etc. ??? Problema da formação de professores? Problema de comodismo para não usarem a criatividade? Resistência a qualquer mudança? Insegurança? Outro que não me ocorre? (IC)

9 comentários:

NUMEROLOGIA E PROSPERIDADE disse...

Maravilha esse cantinho.
Clicando daqui, clicando dali, cheguei até você.
Gostei do seu cantinho.
Certamente voltarei mais vezes.
Convido a conhecer FOI DESSE JEITO QUE EU OUVI DIZER... em http://www.silnunesprof.blogspot.com
Saudações Florestais !

Anónimo disse...

Não é indiferente o modo como "vestimos" os desafios que fazemos aos alunos. Conhecer bem os alunos, conhecer bem a matéria que ensinamos, conhecer e usar diferentes estratégias para captar a atenção dos alunos. Sendo um bom ponto de partida para garantir boas aprendizagens, será que chega? É aqui que entra a organização escolar; é aqui que entra a política (educativa)... É aqui que começam os verdadeiros trabalhos... ;)

AnaCristina disse...

Achei impecável esse teu método da nuvem de palavras. Usei no outro dia uma ideia parecida no 10ºano a propósito da Idade Geológica. O mais díficil para mim é ultrapassar as questões comportamentais... pôr alunos com comportamentos diferentes a trabalhar ao mesmo ritmo dos outros!!!

Nós perpetuamos técnicas de ensino arcaicas e muitas vezes não temos coragem para mudar... às vezes mudo, mas a maior parte tenho medo!!

IC disse...

Miguel, parece-me que tu e eu vemos inversamente a importância do professor na sala de aula, por um lado, e a organização escolar e política educativa por outro. Sem dúvida que a organização escolar é decisiva para a integração dos alunos, os problemas de comportamento, enfim, a socialização. Mas isso de pouco servirá para a preparação dos alunos se as aulas forem o que eles próprios dizem de muitas: "chatas".
Ao contrário, os professores que consigam motivar, interessar e até entusiasmar os alunos nas aprendizagens, não só cumprem o 1º objectivo da escola - a aprendizagem -, como contribuem para a integração e a melhoria dos maus comportamentos (hoje tão frequentes). Poderás referir os programas, que são da responsabilidade do ME, mas esses professores até gerem maus programas num sentido positivo.

Repara na última parte do comentário da própria Ana. Repara também como outra das nossas "comadres" do Aragem motiva, inova e faz crescer todos os seus alunos (sabes a quem me refiro).

Reivindicar uma boa política educativa e uma boa organização escolar faz parte do papel dos professores preocupados com a Educação no nosso país. Mas a 1ª preocupação que deveriam ter é com eles próprios - com a mudança dos seus métodos arcaicos (para usar a expressão da Ana). E não escondamos a realidade, não sejamos corporativistas! Há muitas e muitas excelentes excepções, mas estão muito longe da maioria. Os meus netos até nunca tiveram professores propriamente maus mesmo, mas tiveram poucos cujas aulas não fossem muito tradicionais, em algumas a terem que fazer esforço para estarem atentos e até... às vezes para não se deixarem dormitar (e não são alunos nadinha "problemáticos" ) E isto é grave no Básico, pois no Secundário já têm uma idade em que, se querem aprender, não precisam de especiais "inovações" dos professores.

Propus à Teresa que trouxesse o seu post e as minhas perguntas aqui para o Aragem em mais uma tentativa de gerar debate - neste caso quanto às minhas perguntas, a que não sei responder. Interessante a Ana ter dado uma resposta: "tenho medo".

Mas se mais esta tentativa de animar o Aragem com um debate não resultar... acho que desisto definitivamente das minhas tentativas para isso.

AnaCristina disse...

No que me diz respeito, Isabel, criaste debate... Com as minhas palavras não quis dizer que sou completamente tradicionalista quando estou na sala de aula... aliás esforço-me muitas vezes por mudar... no entanto é obvio que tenho medo de algumas inovações, seja porque muitas vezes tentei alterações que resultaram mal seja porque muitas vezes é mais fácil nos acomodarmos!! Verdade seja dita que frequentemente não há condições de implementar inovação, ou por falta de condições materiais ou por falta de resposta dos alunos, pois muitos deles também já estão habituados a uma metodologia e estranham coisas diferentes.

Tudo isto são desculpas... mas são também factos que muitos de nós reflectem e enfrentam.

Anónimo disse...

Isabel, não posso nem quero desvalorizar o papel do professor na sala de aula. Na minha dissertação de mestrado procurei perceber como os professores da minha amostra se posicionavam face aos programas nacionais. Concluí que as concepções dos professores subjugavam as orientações contidas nos documentos oficiais. Esta evidência não me permitia subvalorizar o trabalho do professor na sala de aula, mesmo que o pretendesse fazer. Não foi por acaso que propus ao centro de formação da minha área um círculo de estudos para produzir instrumentos de avaliação das aprendizagens dos alunos. Obviamente que a criação dos instrumentos foi apenas um pretexto para partilhar experiências, promover a reflexão, debater e recriar ideias de escola e de trabalho cooperativo. Estes dois exemplos concretos daquilo que eu penso que deve ser a construção da profissionalidade e o modo como recrio essa profissionalidade servem apenas para dizer que concordo contigo, que a mudança deve ser suscitada da base para o topo.
Reconheço a minha dificuldade em responder directamente às tuas questões. Eu não sei se os professores estão menos criativos ou se inovam menos ou mais. O que eu sei é que a vida do professor é cada vez mais difícil, que há cada vez menos Teresas no ensino, que sou cada vez mais compreensivo com os colegas que se protegem dos problemas que decorrem da intensificação do trabalho docente.
O que eu posso testemunhar é que o encontro de colegas, em círculos de estudo ou outras tertúlias, são catárticos e catalisadores da mudança. Que valem a pena. Quem tiver pachorra deve procurar dinamizar estes encontros.
Quanto à tua tentativa para dinamizar o debate, IC, o que posso mais dizer? Que gosto de te ver aqui com entusiasmo, que fazes falta, que és um exemplo de tenacidade, que sou um privilegiado por partilhar contigo este espaço. :)

Teresa Martinho Marques disse...

Curiosamente na minha tese (intro) refiro (na linha de alguns autores)a importância de centrar a investigação (com características de acção)no espaço aula (dentro para fora... já que reformas de fora para dentro poucos resultados têm dado)... mas não alheio essas reflexões da necessidade de reinvindicar as outras mudanças contextuais para remover as adversidades que muitas vezes inibem a acção educativa na escola situada. Talvez devesse ser um processo paralelo, pois sem isso será difícil que se generalize uma mudança tão necessária... manter-se-á o panorama das excepções. A partilha entre pares ajuda, sim. A formação é importante (indispensável, formal, informal, autónoma, partilhada), sim (tentarei este ano dar o meu contributo nessa área)... mas é realmente também preciso remover algum do nosso receio de experimentar (compreendo o que a Ana diz, pois já o escutei de outros colegas e muitas vezes o senti ao longo do caminho). O medo pode ser trabalhado e reduzido com a experiência e quando existe a centelha e a semente do desejo de fazer melhor e mais (como na Ana). É um processo gradual. Nada disto é de fácil resolução porque se sustenta no mais humano e pessoal de nós, nas nossas motivações individuais, nos nossos percursos, nas nossas boas e más experiências, na forma como reagimos habitualmente aos problemas e às dificuldades na vida (transportando essas nossas características para o terreno da função docente). O sistema tem tentado matar o amor mais frágil de alguns de nós e, sem dúvida, agora serve de desculpa para os que nunca amaram, mesmo quando havia mais tempo para tal. Por isso... compreendo bem o que o Miguel diz e percebo o que a Isabel argumenta. Bom mesmo seria não desistir das conquistas possíveis no território das aulas, sem deixar nunca de combater os factores que as encurralam e as dificultam. Duas lutas intimamente relacionadas que simbioticamente trabalhadas poderiam conduzir a melhor educação nas escolas... A esperança é a última a morrer... :)

Teresa Martinho Marques disse...

Faltou dizer... se ainda não matou por cmpleto o amor mais forte de alguns, gera outro tipo de sentimentos (a que não sou alheia): como não consigo estar na profissão sem amor... já dei comigo a pensar que se existir um momento em que se torne impossível fazer o que acho melhor para os alunos como quero e acho correcto, então prefiro fazer outra coisa (com crianças) que mo permita sem entravas... Esse tipo de pensamento e sentimento nunca me havia ocorrido mas, confesso, em alguns dos piores momentos destes anos foi recorrente e não é alheio ao facto de ter finalmente aceite um desafio que me tem sido feito desde há muitos anos pela ESE... afastando-me um pouco da minha escola para entrar no território de outras numa perspectiva diferente. Vou ter bastante mais trabalho, mas evito de alguma forma os confrontos recorrentes na minha (por conta de tudo o que se tem vivido e das opções que fiz) que me têm desgastado e entristecido demasiado... Acho que precisava de respirar outros ares para reflectir sobre o que me faz ser como sou e recuperar forças para nunca deixar de o ser...
Estratégias...

Teresa Martinho Marques disse...

"completo"... "entraves"... :)