domingo, outubro 5

Dia Mundial do Professor

Logo de manhã sentei-me à secretária, liguei o computador, abri a Internet e procurei, entre aspas, o que poderia haver sob a designação de "Ser Professor". Encontrei 247 000 sites em que aparecia a expressão. Fiquei a ler, a ler, até que chegou a hora de preparar o almoço. Porque os Professores contam, sim, mas também comem...
Depois, estive a ler os jornais e a ver o que se dizia sobre o assunto do dia. Um pouco incomodada. Porque as mágoas daqueles que aprecio e admiro me doem também. Bem, mas de tudo o que li, o que me encheu a alma foram estas palavras de Rubem Alves que fui roubar ao Terrear:
"Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma, continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais..."
Perdoem-me por continuar assim, crente na missão que escolhi para ser a minha vida e por ainda acreditar em Utopias na minha idade. Não quero falar hoje em avaliações, em ministros, em papéis, em carreiras, nada disso.
Quero lembrar a alegria e o entusiasmo com que começo sempre uma aula, seja ela do que for. Quero saborear a lembrança de ver o rosto de um aluno com menos aptidões para a nossa disciplina a iluminar-se quando entende, quando integra em si um novo conhecimento.
Quero pensar na Emilia Melhorado, que se lembrou de mim a semana passada e andou à procura do meu endereço, ela que está na sua terra em Vila Nova de Foz Coa, para me pedir um conselho.
Quero, hoje, mais do que nunca, orgulhar-me da certeza de que, como disse o João Bernardo, alguém pode não ter feito algo de errado porque se lembrou de mim.
Parece um auto-elogio, não é verdade? E elogio em boca própria é vitupério, diz o ditado. Mas quando digo isto faço-o com a certeza de que dezenas, centenas, milhares de Professores o podem fazer também.
Fui Professora durante mais de 40 anos e apenas duas vezes dois alunos foram um pouco indelicados, com uma diferença de 10 anos entre as duas actuações. Mal lhes recordo o nome. Mas vejo à minha frente todos os rostos, todas as relações que se estabeleceram entre nós, todas as delicadezas, o carinho, as pequenas coisas cúmplices que nos uniam.
E neste dia em que os Alunos que passaram pela nossa vida talvez nos recordem com saudade, quero prestar a minha homenagem aos Professores que mais me marcaram:
- D. Magda, na 4ª classe, pelos desafios que nos lançava;
- Dra. Elsa, de Francês, pela delicadeza, aliada ao conhecimento, com que nos educava, naqueles tempos difíceis e lugares longínquos;
- Dra. Amélia, de Matemática, por nos mostrar para que é que ela servia, aquela Matemática de que tantas tinham medo;
- Dra. Hermínia Roberts, de Português, (e Reitora) por me ter entusiasmado com os Lusíadas;
- Dr. Barata, a quem carinhosamente chamávamos o Dr. Baratinha, baixinho, de Filosofia, que nos ensinava a raciocinar e a pensar pela nossa cabeça.
Vejam, de entre a multiplicidade de Professores que tive, quantos me ficaram no coração e na alma! E enquanto eu viver, estes Professores continuarão vivos.

Pois se é verdade que
"Ensinar não tem que ser mesmo um sacerdócio
Mas é mister de tão grande valor
Que, depois do Amor e do Ócio,
Não há nada maior
(Nem melhor)
Do que ser Professor"...

Sei que às vezes é duro, é difícil, mas está na nossa mão emendar o erro, trazer à tona a Verdade e a Razão. E não se zanguem comigo: vinte vidas tivesse eu, e para a vontade que tenho de aprender e ensinar, não seriam bastantes!
Para todos os Colegas, os meus desejos e votos sinceros de que possam, em breve, sentir o que sinto. Felicidades.

3 comentários:

AnaCristina disse...

Depois de a ler, fico entusiasmada com o Ser professor... mas depois olho em volta e vejo onde estou e como me sinto na realidade... Não me apetece ser professora assim!

matilde disse...

Já é tarde... e amanhã a escola começa cedo. Quero só agradecer à Avó Pirueta por esta entrada.
A escola tornou-se muito burocratizada, pedem-nos, memso que indirectamente, que façamos o nosso trabalho pelo que dele possamos mostrar, e não pelo fazer do trabalho em si. Há desconfiança por todo o lado... recibos para de entrega de materiais, numeração de documentos assinada e verificada, carimbo para aqui e para ali... E quase nos obrigam a esquecer o propósito de tudo isto: os Alunos.
Ser professor é realmente uma profissão nobre. Talvez das mais nobres. E cabe-nos também a nós, e em primeiro lugar a nós, acreditar nisso.

Anónimo disse...

Dr.ª Maria do Carmo Cruz, minha professora de Inglês no Curso da BAD de 91 a 95, foram, apesar dos pesares, os melhores tempos que vivi no ensino. Para mim foi a professora, a amiga, a orientadora, a minha animadora, a mãe (eu precisava de colo nessa época). Foi do melhor que passou pela minha vida académica. Hei-de recordá-la sempre com o carinho que me mereceu desde o primeiro dia que nos conhecemos.
Obrigada por tudo o que fez por aquele grupo tão pequeno, mas tão cheio de vontade de vencer na carreira de BAD.
Emília Melhorado