domingo, novembro 11

Tecnocracia e/ou pedagogia?


Há muitos anos atrás, quando as então "novas" tecnologias nos presentearam com o último grito tecnocrático do Excel, comecei a utilizá-lo na avaliação dos alunos: aquilo transmitia-me alguma "segurança tecnocrática" que, de algum modo, sempre minorava a minhas recorrentes indecisões, inseguranças e dúvidas na hora da decisão sumativa.
Até que um dia pensei de mim para mim, Idalina, deixa-te de tretas, esquece o EXCEL, dá as notas "à antiga", com o teu saber prático e a tua intuição descritiva, ainda que com alguns números como base de manobra.
Escrevi então as "notas" na caderneta e, a seguir, ancorei-me no excel, por via das dúvidas.
Cheguei à conclusão que a minha avaliação mais "impressionista" era sempre um pouco mais benevolente que o irrepreensível excel. Não andava longe, mas era sempre um pouco mais "benevolente".
Hoje, penso que a reflexão tecnocrática está sempre uns degraus abaixo da reflexão crítica, até na hora da avaliação.


Contudo, voltei ao excel quando, no ensino superior, tive de avaliar alunos que, por sua vez, eram, também eles, professores: por uma questão de segurança, evitava as recorrentes questiúnculas em torno das "notas", das sempre argumentáveis benesses atribuídas a uns, que não a outros.

8 comentários:

tsiwari disse...

Mais importante que "Excelizar" tudo, aprendi eu na pós-graduação que frequentei, é ser coerente no binómio discurso/prática.

É não dizer que a apresentação de um trabalho vale 10% da nota final e atribuir 10 valores, neste ítem, a alguém que nem apareceu para apresentar o trabalho. Ou dar um 14 a quem, vergonhosamente, apresentou esse trabalho (que não fez e a apresentação foi a justificar o injustificável - não fez o trabalho porque estão, os elementos do grupo, numa gestão on fire - sic.)

Sobretudo para não provocar nos alunos um sentimento de desilusão...afinal a santinha tinha pés de barro.

É o pior que um professor pode fazer...decepcionar os alunos.

AnaCristina disse...

Concordo plenamente com o Tsiwari. Além disso, marcar os alunos com um número sempre foi algo que me fez muita confusão... e se a isso juntar um numero feito num programa de computador, ainda mais desagradavel é... ainda mais distante é!
E para mim Educação é sinónimo de proximidade!

José Azevedo disse...

Coerência no binómio discurso/prática: ora aí está uma frase bonita mas difícil de cumprir. Não que tenha por hábito fugir ao que digo, mas pela rigidez implicada em seguir escrupulosamente uma regra estabelecida no início mas acerca da qual começamos a ter dúvidas...
É nisso que ando a reflectir agora: nas formas de estabelecer à partida regras de avaliação consensuais e adequadas aos objectivos de aprendizagem.

Paideia disse...

TsiWari, a tua intervenção fala de algo que parece ter-te magoado, pela iniquidade do procedimento de outro que tinha o poder para, de algum modo, marcar a vida de alguém.
Creio que estamos falando das percepções de quem avalia, que podem diferir das de quem é avaliado.
Essa diferença pode sempre ser minorada através da comunicação, mas jamais será anulada.
Por exemplo, eu gosto de dar sempre a matriz dos testes, mas quando trabalho com outros colegas, eles não gostam de o fazer. Ora, se negociamos a aplicação de um teste a várias turmas, não podemos dar a matriz a umas e não dar a outras. Mas eu sei que tenho razão: que o mais justi é dar aos estudantes a matriz do teste que lhes vai ser aplicado. E contudo, cedo.
Eu percebo o porquê da resistência dos colegas a dar a matriz - a sua resistência tem a ver com o oportunismo,com a argumentação falaciosa que muitas vezes é utilizada contra o professor.

tsiwari disse...

paideia: o caso que relato reveste-se de maior gravidade exactamente por ter havido muito diálogo, por ter denunciado a situação e, finalmente, por de nada ter adiantado tudo isso.

Se calhar por ser uma situação vivida há pouco tempo, deixa-me mais sensível para esta problemática.

Espero continuar com esta sensibilidade por muita tempo...para tentar acautelar este tipo de situações.

Mais grave do que nada esclarecer é, senti-o eu, esclarecer tudinho e nada aplicar.

JMA disse...

Já agora explicito sumariamente os objectos de avaliação, a ponderação e os critérios explicitados (e 'consentidos') na 1ª aula de uma turma de mestrado: são os seguintes os objectos de avaliação continuada: 5 comentários individuais(máximo de duas páginas a entregar em datas previamente definidas até ao final do ano) a textos de referência: factor 3; recensão crítica de um livro, em trabalho de grupo, de uma lista extensa de obras; factor 2; apresentação oral da recensão crítica: factor 1; identificação e apresentação de 3 casos problemas: factor 2; pré-projecto de dissertação: factor 2; participação nas sessão de seminário: factor 1. Em relação a cada objecto foram definidos os critérios de avaliação que determinam a atribuição de uma nota na escala de 0 a 20. Depois "é só" aplicar a fórmula: 3C+2RC+Ap+Prob+ 2PProj+Part : 10.
Atribuir a nota não é fácil (apesar dos critérios procurarem ser precisos). Mas a diversidade de instrumentos, a continuidade do trabalho e o constante feedback e a calreza da "fórmula" ajudam bastante.

tsiwari disse...

jma : a questão do consentido é a mais importante, para mim. Há logo todo um envolvimento que faz a diferença...

Agora é necessário aplicar os critérios da mesma forma, a todos os mestrandos. E foi aqui que resvalou tudo, no caso a que me referi.

Que corra tudo bem (e eu sei que está a correr).

JMA disse...

Claro. Absolutamente. A perda da coerência é factor de injustiça e a 'morte' da avaliação.