sexta-feira, abril 13

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“[…] Há naturalmente discursos persuasivos que se desmontam com mais facilidade, através do recurso a discursos ainda mais persuasivos, que mostram os limites da argumentação. Tenho a certeza de que todos vocês já ouviram falar daquele anúncio imaginário que diz «comam merda, os milhões de moscas que o fazem não podem estar enganadas», e que ocasionalmente é usado para demonstrar que as maiorias nem sempre têm razão. O argumento pode ser rebatido perguntando-se se as moscas têm uma predilecção pelo esterco por razões de gosto ou por razões de necessidade. Ou perguntando-se se, caso espalhássemos caviar e mel pelos campos, as moscas não se sentiriam mais atraídas por estas substâncias. Recordar-se-ão a premissa «cada um come aquilo gosta» é contrariada por inúmeras situações que levam as pessoas a comer coisas de que não gostam, como sucede nas prisões, nos hospitais, no exército, durante os períodos de fome, ou quando se faz dieta.” [Eco, U. (2007). A passo de caranguejo. Ed. Difel, p. 49]
Isto vem a propósito da actualidade política, de discursos persuasivos, de retórica epidíctica, de maiorias e de uma [quase] democracia…

1 comentário:

Anónimo disse...

Se vem a propósito de maiorias e de uma quase democracia (eu não ponho o quase entre parêntesis, até punha outra palavra, mas contenho-me), ainda bem que lembras esse livro, Miguel. (Porque comprei-o há pouco tempo, mas está num montinho dos "para ler" e até me tinha esquecido!)