domingo, janeiro 24

Calmantes educativos

Apenas hoje li o artigo de Berta Brás no DN de 13 de Janeiro sobre a "medicação para a docilidade", que tem duas linhas de raciocínio que merecem ser trazidas para aqui.
Uma é a já tradicional litania das diferenças entre o bom ensino de antigamente e a pouca-vergonha do ensino de hoje. Pessoalmente acho a abordagem simplista, mas compreendo que há limites para o que se consegue transmitir em 3500 caracteres. Ainda para mais quando o tema de fundo é outro e, acho eu, muito mais preocupante. E digo isto porque professores/pedagogias/escolas bons e maus sempre os houve, mas este fenómeno de drogar miúdos é recente.
Conheço poucos casos de crianças a tomar Ritalina ou sucedâneos, mas em todos eles me parece que as crianças estão a pagar pelos erros dos pais. Admito que possa haver casos genuínos de descontrolo hormonal ou psicológico que justifique a ingestão destes produtos. Mas milhares de crianças, Senhor?

5 comentários:

Miguel Pinto disse...

Educar requer persistência, exige algum esforço, carece de tempo. Como educar sem cuidar destes pré requisitos? A solução parece estar aí à mão, numa farmácia perto de si. A solução parece estar aí à mão...

PS (salvo-seja): A associação de pais da qual faço parte terá, no seu plano de formação de pais, mais um tema a explorar.

manuel afonso disse...

Eu por mim, achava que o que se devia fazer era mesmo drogar os catraios. Logo pela manhã, assim a miudagem não fazia asneiras. Se fossem para a escola, ficavam pedrados no seu lugar e alguma coisa entraria naquelas cabecinhas. Se não fossem, ficam por aí sem partir nada, nem esvaziarem umas bejecas.
Hoje deu-me para a asneira, perdoem-me, todos temos os nossos momentos de loucura.

Idalina Jorge disse...

Peço desculpa. Em princípio, não interviria neste diálogo, não se desse o caso de parecer haver aqui um equívoco relativo à RITALINA.
Este fármaco nada tem a ver com "hormonas" e não é para adormecer crianças.
No DSMIV existe a referência a uma condição neurológica designada de hiperactividade e défice de atenção; o medicamento tem por função estimular um neurotransmissor, a dopamina, cujo efeito é permitir a quem sofre daquela condição sentir-se mais calmo e concentrado.
Tal como a maioria dos medicamentos, tem as suas limitações e inconvenientes, mas permite a muitas crianças c/ HDA sentirem-se mais tranquilas, atentas e concentradas nas aulas e, consequentemente, mais seguras e auto-confiantes. Tive, enquanto fui prof. do ensino básico, várias crianças medicadas com RITALINA, com excelentes resultados. Eram meninos aplicados, doces, mas muito sofredores, porque tinham muitas dificuldades em estar atentos e concentrados nos seus trabalhos escolares, embora o desejassem muito.
Muitos professores não entendem estas crianças, porque o seu permanente "desassossego" prejudica-as a elas, mas também o clima da turma.
É claro que há pais que resistem, com mais ou menos razão, a que os seus filhos sejam medicados contra tal "desassossego".
Neste caso, todas as opiniões, dos pais, dos professores e, acima de tudo, das próprias crianças devem ser sopesadas e negociadas, tendo em conta o que é melhor para o jovem.
Tive um aluno que desejava muito experimentar o medicamento, que estava a ajudar outras crianças, mas o pai era contra. Este menino não conseguia estar quieto nem um bocadinho, a cabeça estava em constante movimento e ele tinha dificuldades escolares.
Portanto, e em suma, estas crianças não são mal educadas, apenas sofrem de uma condição neurológica que afecta a sua aprendizagem e rendimento escolar, pelo que também não podemos responsabilizar os pais por esta condição: seria injusto e desumano.

Compreensão, paciência e, sobretudo, uma grande atenção dos adultos, particularmente dos profs., são bons ingredientes.

Referência:http://www.web4health.info/en/answers/adhd-ritalina-how.htm

Abraço.
Idalina Jorge

Miguel Pinto disse...

Obrigado pelo esclarecimento, Idalina. Estamos sempre a aprender :)

Idalina Jorge disse...

Mas, caro Miguel, a minha intenção não era ensinar o que quer que fosse, era apenas a de esclarecer eventuais equívocos e de contribuir para uma malhor compreensão desta situação.
Abraço,
Idalina Jorge