« 150 treinos mais 20 a 25 jogos por ano, de novo dispondo de total autonomia na direcção e condução da actividade, a significar terreno profícuo ao desenvolvimento, é no nosso olhar sobre o jogo que começa por ocorrer a mudança.
E o que começa a ocorrer, é que, progressivamente, o olhar na busca dos caminhos para ensinar, vai-se libertando da exclusiva conformidade com os conteúdos, para deslizar na identificação dos problemas que a situação de jogo colocava aos aprendizes.
Aprendemos a olhar não para o jogo, mas sim para o jogo que eles conseguiam jogar, focalizando o olhar nos expedientes de que se socorriam para resolver os problemas, para daí avaliarmos o nível de competência necessária para poderem ter êxito.
E fomos aprendendo que tínhamos de ser capazes de ver o jogo simultaneamente em duas dimensões. A dimensão real, que se traduzia naquilo que estava a acontecer, e a dimensão antecipativa, que se traduzia naquilo que deveria acontecer.
Situando-nos sempre entre o jovem e o jogo, fomos naturalmente percebendo que cabe a quem ensina adequar as condições de prática, quer às particularidades dos praticantes (competências que possuem), quer aos propósitos da aprendizagem (conseguir que joguem).
A experiência de Moçambique ensinou-nos a compreender que se aprende enquanto se ensina, e ensinou-nos a saber procurar mais com a aprendizagem do que com o ensinar.”
Hermínio Barreto (2004) Prontidão desportiva. Equilíbrio entre as capacidades de hoje e exigências de amanhã. In: Gostar de Basquetebol. Ensinar a jogar e aprender jogando (pp 19-20). Lisboa: Edições FMH.
3 comentários:
Repito o comentário que deixei no blogue do Henrique:
Se bem entendi o texto, julgo que se depreende uma ideia importante que se aplica não só ao jogo/à Educação Física, mas a qualquer disciplina: Há que olhar para o que os alunos já conseguem fazer e adequar o ensino às particularidades dos alunos tendo em atenção o que cada um já consegue (ou ainda não consegue). E, claro, com os "saberes" dos alunos também se aprende enquanto se ensina - aprende-se nomeadamente a aproveitar esses "saberes".
Desculpa, Henrique, se não interpretei bem - o texto é específico de uma área em que sou leiga.
"o olhar na busca dos caminhos para ensinar, vai-se libertando da exclusiva conformidade com os conteúdos, para deslizar na identificação dos problemas que a situação de jogo colocava aos aprendizes."
Se me permitem o atrevimento encontro uma analogia perfeita com o jazz. O professor vai-se libertando dos conteúdos do mesmo modo que o artista se liberta da pauta hermética; o professor concentra-se na resposta personalizada aos problemas da aprendizagem do mesmo modo que o artista se lança no improviso dominado da peça.
hummm... não se deixem supreender com o comentário porque acabei agora mesmo de ver o filme "entre les murs" ;)
Estive para colocar como apêndice à citação: é só trocar "jogo" por outra actividade que se ensina/aprende e tudo continuará a fazer sentido.
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