segunda-feira, fevereiro 23

A luta, as consequências e as leituras. Ou "O velho, o rapaz e o burro", parte 2

Recebi por email. A partilha não obriga ninguém a nada... pode provocar discussão. E isso não será tão negativo que a impeça, digo eu...
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A LUTA DE BRAÇOS CRUZADOS
Muitos professores decidiram não entregar os objectivos individuais, alegando nunca é mencionada essa entrega como um dever dos professores. Permitam-me discordar: tal não é um dever, é um direito. Os professores têm o direito de definir os seus objectivos, e preferiram declinar esse direito. Os resultados a curto prazo não se farão sentir: o director da escola definirá os objectivos para esses docentes e a avaliação continuará. A longo prazo poderemos perder esse direito, e porque nos foi atribuído e não quisemos usufruir dele, no futuro esses objectivos passarão a ser definidos pelos órgãos de gestão… Se o vosso director não for uma pessoa razoável, terão de acatar os seus objectivos com os quais poderão eventualmente não se identificar e sem possibilidade de reclamação!
Os professores decidiram não pedir aulas assistidas. Como resultado a curto prazo não se pode esperar nada: tudo vai decorrer tudo na maior normalidade, não haverá ainda mais excesso de trabalho, excesso de burocracia, excesso de papelada e, ironicamente, a avaliação até parecerá que é exequível. Como resultado a longo prazo espera-se que a senhora ministra no final do ano proclame "apenas 10% dos professores requereram aulas assistidas" e o impacto na opinião pública será: "continuam uma cambada de preguiçosos privilegiados, que não querem fazer nada, nem têm brio profissional - desde que não tenham trabalho, contentam-se pelo bom".
No final do ano lectivo todos os docentes serão avaliados e terão uma nota, pois apesar de não terem entregue os objectivos individuais terão de preencher a ficha de auto-avaliação, uma vez que essa, sim, é um dever dos professores.Tendo em conta o reduzido número de professores que pediu aulas assistidas as quotas, obviamente, não serão preenchidas. A conclusão será: os professores fartaram-se de reclamar por causa das quotas e afinal nem as preencheram! A maioria dos docentes optou por esta luta de braços cruzados, a luta do "não concordo e então não faço nada".A decisão mais inteligente seria a luta do "vou fazer tudo e mostrar que, apesar de todo o esforço e empenho, este sistema não é exequível". Não será difícil de imaginar que, se todos pedissem aulas assistidas, o que só por si iria causar inúmeros transtornos a nível de organização das escolas, se todos reclamassem da classificação atribuída - em primeira instância na própria escola e para a CCAD, cem ou duzentas reclamações para serem decididas em 15 dias, podendo ainda reclamar-se para o Director Regional, milhares de reclamações para serem decididas em 10 dias - instalar-se-ia o caos e assim se mostraria que este sistema é impossível. Nada fazendo, que provaremos? Então, porquê esta opção pela luta de braços cruzados? Na maioria das escolas, quem a liderou foram os avaliadores, pois sentiam-se muito angustiados com o facto de ter de avaliar colegas, mas quando concorreram para professores titulares (ninguém os obrigou) sabiam que teriam de avaliar, quando aceitaram as comissões de serviço (ninguém os obrigou…) sabiam que teriam de avaliar; arranjaram, assim, uma maneira de, não só evitarem avaliar como de parecerem heróis na liderança da "luta contra o sistema". Para conseguirem tal, muitos deles coagiram directa (dizendo alto e bom som na sala dos professores que quem pedisse aulas assistidas iria ser lixado) ou indirectamente (há maneiras muito subtis de coagir) os avaliados a não pedirem aulas assistidas.
Os docentes que pediram aulas assistidas estão agora a ser apelidados de oportunistas: oportunista é uma pessoa que se aproveita da desgraça dos outros em proveito próprio. Que desgraça? O não terem pedido aulas assistidas não podendo por isso ter muito bom ou excelente? Mas não o fizeram de livre e espontânea vontade? Nas sociedades democráticas, as pessoas são livres de tomar decisões e, mais importante ainda, têm o direito de ser respeitadas pelas mesmas. Coacção é o método preferencial utilizado nas ditaduras…
Falando em oportunismo, não foram os avaliadores oportunistas quando aceitaram os cargos e as regalias, nomeadamente as monetárias? Se desde sempre tencionavam não cumprir parte dos deveres inerentes ao cargo… Claro que os avaliadores não optaram pela luta do tudo fazer e depois reclamar, pois seriam eles na berlinda ao ter de deliberar em primeira instância sobre essas reclamações. Decidiram o que mais lhes interessava e os avaliados foram na onda.
Tudo isto tem servido para demonstrar o pior das pessoas: as qualidades primordiais de um professor deveriam ser a tolerância e o respeito pelos outros e não é isso que se verifica.
De momento, não sei se me orgulho de ser professor!
Um Professor que não cruzou os braços.- José Viriato

5 comentários:

IC disse...

O que eu acho é que já nada disto faz sentido. Depois de uma aparente unidade, a realidade veio ao de cima - as realidades vieram ao de cima. Receio que os professores não saiam de todo este processo (não sei se ainda se lhe pode chamar luta) bem vistos aos olhos da opinião pública e aos seus próprios olhos.

Maria disse...

... e muita da culpa deve-se aos sindicatos!
Cresce a desilusão...

IC disse...

Teresa, não quero entrar em polémica, mas confesso que não percebi o teu comentário. Que culpa têm os sindicatos de uns professores decidirem entregar os OIs e outros decidirem não entregar, ou uns quererem aulas assistidas e outros não? Nem sempre estou de acordo com as actuações das direcções sindicais, mas, na verdade, elas devem ver-se muito 'às aranhas' para irem ao encontro das disposições dos professores, que raramente mostram unidade no que quer que seja, muito menos em determinação. Acho que esta é uma verdade... ou não?

tsiwari disse...

Os professores, raramente mostram unidade no que quer que seja... nem sequer uma atitude coerente, minimamente constante.

Para tal abona, em muito, as mudanças das regras - acho que nem regras são, tão pouco tempo de durabilidade/aplicabilidade têm! - por parte de quem as deveria implementar.

E há verdades e razões em todos os lados dos docentes - nos que entregam os OI, nos que não os entregam, nos que pedem as aulas observadas, nos que as recusam... - que se perdem quando se entra nos julgamentos de atitudes e procdedimentos. A empatia também não abunda na nossa classe...

Desabafos. Cumprimentos a toda a confraria.

Anónimo disse...

Só gostava de saber quem é que foram os titulares que ficaram a ganhar mais dinheiro, será que estando na classe sabem o que se passa lá dentro? Ficaram, sim com o triplo do trabalho e da responsabilidade!!!
E numa confusão no ensino que ninguém se entende... Apenas queremos melhorar a Educação em Portugal mostrando resistência a mais uma diarreia ministerial....